Julgue o Disco pela Capa - Volume 03

    Fumar já foi um ato glamouroso. Ostentar um pequeno e esfumaçante cilindro de papel, recheado de mágicos e tóxicos componentes vegetais, durante uma conversa casual significava, em outros tempos, status social. O desejo de ser charmoso e estar dentro dos padrões da moda ajudou a alavancar as atividades da indústria do cigarro nas primeiras décadas do século passado.
    Hoje em dia, muito se discute acerca do tabagismo. Ações cada vez mais incisivas, no Brasil e no mundo, buscam a erradicação do hábito do fumo. A proibição da veiculação de propagandas, a inserção de imagens apelativas e chocantes acerca dos malefícios dos fumígenos em suas embalagens, a lei paulista – que vai se alastrando pelos demais estados brasileiros – que proíbe os fumantes de saciarem seu vício em locais fechados, os progressivos aumentos da carga tributária, já bastante pesada, em todos os estágios da produção industrial do cigarro: todas essas armas têm sido largamente utilizadas na guerra contra o fumo.
    Não importa de que lado você esteja nessa batalha: quer seja você fumante, ativo ou passivo, quer seja você membro do exército do Dr. Drauzio Varella, ativista da vida saudável, certamente já se rendeu à música de algum refém do cigarro – lícito ou não.
    Por isso, selecionemos, organizemos e apresentemos as cinco melhores capas de disco contendo: Gente Fazendo Fumaça. Prepare os pulmões e continue lendo.

PS: o banner foi feito baseado (badum tsss) no trabalho do coletivo americano de grafitti denominado Santa Cecilia.

PS²: Eu sei que cometi várias injustiças deixando certas capas de fora. Portanto, não hesite em apontá-las!

#5

Álbum: Arctic Monkeys - Whatever People Say I Am, That's What I'm Not

Ano: 2005

Porque está na lista: O ato de julgar um disco pela capa, como se sabe, não requer critérios: ou você vai com a cara - no caso, a artwork - do álbum, ou não vai. No entanto, há um aspecto concreto que faz com que meu julgamento positivo seja facilitado, que é a congruência entre o nome do disco e a imagem apresentada. O cara da foto é Chris McLure, amigo dos membros do Arctic Monkeys, e, ao empunhar o cigarro logo pela manhã, faz a perfeita feição de quem tá pouco se fodendo pro resto do mundo - ou, especificamente, para o que falam sobre ele. Vale lembrar que a capa causou polêmica no Reino Unido. O órgão equivalente ao Ministério da Saúde de lá disse que a imagem poderia dar a entender aos jovens que o ato de fumar é algo normal. Vê se o cara da foto tá ligando pra isso.

Bayfiles

#4

Álbum: Bob Marley & the Wailers - Catch a Fire

Ano: 1973

Porque está na lista: Falar de fumo e não falar de Bob Marley é quase como falar de piada sem graça e não falar de Preta Gil e Rubinho Barrichelo. Essa é a única capa de disco que mostra, de maneira nua e crua, a essência do que é o legado que o Rei do Reggae deixou. Além disso, a curiosidade fica por conta do fato de que a arte original do disco - em vinil, frise-se - era uma engenhoca que imitava um Zippo e que, além disso, também funcionava como uma caixa para esse tipo de isqueiro. O custo para fazê-lo, entretanto, era bastante elevado, sendo que esse formato só foi disponibilizado para as primeiras vinte mil cópias. As demais ostentaram este singelo retrato, da lavra de Esther Anderson, famosa atriz, fotógrafa e produtora jamaicana.

Bayfiles

#3

Álbum: Gil Scott-Heron - I'm New Here

Ano: 2010

Porque está na lista: Ok, eu confesso. O fato de esse disco figurar nessa lista poderia ser considerado como uma espécie de nepotismo, mas em vez de favorecimento a familiares, o caso seria de facilitação a artistas preferidos. Gil Scott-Heron é um dos integrantes mais fantásticos da minha lista de carreiras admiráveis, mas não é só por isso que o disco aqui jaz. A fotografia, pra mim, capta perfeitamente a situação de um homem, já no fim de sua vida - ele faleceu pouco mais de um ano após o lançamento do álbum - dando vazão aos sofrimentos do corpo e da alma por dois meios distintos: a música e o cigarro.

Bayfiles

#2

Álbum: Cartola - Verde Que Te Quero Rosa

Ano: 1977

Porque está na lista: Talvez um dos maiores gênios da música brasileira, Cartola influenciou gerações de sambistas, poetas e intelectuais de toda sorte. Sem perder a humildade, entretanto. A foto que ilustra a capa de seu último disco retrata de forma direta a sua simplicidade: a paixão pelas coisas simples da vida, como um café e um cigarro, e pelo samba, denotada nas cores da xícara e do pires, o verde e o rosa de sua tão amada Estação Primeira de Mangueira.

Bayfiles

#1

Álbum: Dinosaur Jr - Green Mind

Ano: 1991

Porque está na lista: Se há um único acerto na obra de J. Mascis e companhia, este reside na acuidade em escolher capas de discos. Praticamente todos os registros da banda são prestigiados com artworks primorosas. Com Green Mind, de 1991, não foi diferente. A composição, no entanto, não foi feita especialmente para o disco. Trata-se de uma fotografia de Joseph Szabo, um dos maiores fotógrafos do mundo, intitulada Priscilla, de 1969, o que significa dizer que a menina fumante badass quebradora de regras está bem velhinha - se estiver viva. Se a capa causou polêmica na década de noventa, imagina na sociedade sessentista. Primeiro lugar com honras.

Bayfiles