Estou de volta, ou melhor, estamos de volta, isso porque os colaboradores
Tentamos julgar a qualidade — tendo como apoio o mínimo de conhecimento musical ou de experiência sonora que colecionamos com o passar dos anos — mesmo que os gêneros propostos não nos agradem muito, então destaco que qualquer projeto estará correndo o risco de ser elogiado, ou criticado negativamente, mas com o bom senso pago em dia.
A divulgação foi pedida, e será atendida, mas como um blog com quase meia década no ar, posso dizer, e digo isso em nome de toda a equipe do Ignes Elevanium, que temos culhões (nem todos, se é que me entendem) para propor e manter um quadro que visa tanto apresentar, como analisar. Por favor, não nos joguem pedras, pois com as pedras que vocês jogarem nós construiremos absolutamente nada, porque teremos preguiça em fazer qualquer coisa com elas.
O post anterior foi o primeiro, e contou com os projetos Dream Into Dust (New York, EUA), Dathura Suavolens (Brasil) e Hauke Henkel (Bremen, Alemanha). Para esta continuação lhes serão apresentadas a espanhola Theverlong, a inglesa The Fierce & The Dead e portuguesa Cerebral | Dementia.
“Esse eu gostei, daria mais se não parecesse tanto com Paramore, nesse ponto é pouco criativo. Mas é competente e curti a vocal. Bandas de Mallorca nunca me desapontam” — Forbidden
“Banda legalzinha mas faz o mais do mesmo, abusando dos clichês, mas sem comprometer.Já ouvi algumas bandas como essa, que só tem o nome diferente.” — Renato Nagano
“Pra ser sincero, a voz da mina é um tanto quanto "cavernosa" demais, acaba não combinando com a maioria das faixas. Também acho que o baixo deveria acompanhar mais a guitarra.” — Gabriel Ciola
Encaixe as peças: Banda de rock alternativo com fortes referências àquilo que hoje consideram como emo somado à uma vocalista bonitinha, ruiva durante parte de sua carreira, magra, estatura baixa e voz jovial. Não, não estou falando de Paramore, mas talvez devesse tamanha semelhança que Theverlong tem com a já muito idolatrada (acredito que aqui no blog não tenha ninguém) banda de Hayley Williams (que para desespero e indignação de muitos metaleiros espalhou-se o boato de que seria sobrinha em 2º grau de Dave Mustaine). Estas comparações são quase inevitáveis, e possuem fundamentos que são obtidos logo nos primeiros minutos de seu primeiro EP, intitulado “1986” e lançado em novembro de 2010, tanto pela instrumentação quanto pelo vocal de Loana, que nem sempre se assemelha ao de Hayley, mas quando o acontece, parece ter sido proposital de tão próximo. Posso até estar enganado, mas por dentro acredito ser a maior referência do grupo.
“Não faz muito meu estilo, mas o som é gostoso, empolgante. Fico feliz por encontrar uma banda desse estilo que disponibiliza seu som gratuitamente. Merece muito reconhecimento!” — Rômulo Alexander
“Está longe de ser o estilo que ouço, mas não posso julgar gosto aqui e sim qualidade, e isso dá pra notar que eles tem. O material é de primeira categoria, tocam pra caramba, a garota aí tem uma voz bem legal, o problema é que é "mais do mesmo". Mas com certeza conquistará fãs do estilo. Nada a dever às grandes bandas do gênero.” — Áquila Teófilo
"Tem competência naquilo que se propõe a fazer, é óbvio que é uma banda que se aproxima do pop e possui intenções comerciais, e estão fazendo isso muito bem feito. Dá pra notar que todos da banda sabem bem o que estão fazendo." — Koticho
Mas o resultado é sim agradável — assim como o daquela banda do Condado de Franklin que eu já cansei de fazer menção — e por isso tem boas chances de vir a fazer algum sucesso, ou além, já que é uma cena com um público muito, muito grande. Seu rock mantém — daquela forma romantizada e adolescente — presença do punk, ao menos no quesito musical, e a instrumentação está praticamente bem casada à proposta. Isso se nota pela progressão que ocorreu entre o primeiro Ep e o segundo, “1988” (lançado em julho de 2011) que está um tanto mais elaborado. A Theverlong é uma banda espanhola, e por isso os vocais de Loana — sempre em inglês — apresentam sutilmente resquícios do sotaque espanhol, mas parece não querer deixar a língua materna falar mais alto, calando-a com o global do inglês.
“Falta alguma coisa pra essa banda, talvez o vocal, não sei, soa algo meio incompleto.É como se agente ouvisse a musica inteira esperando algo a mais que nunca acontece.” — Renato Nagano
“Apesar de não ser fã de música instrumental, até que curti bastante, com exceção de alguns momentos em que quebram totalmente o ritmo.” — Gabriel Ciola
The Fierce & The Dead por outro lado tenta misturar a agradável nostalgia proporcionada pelo post-rock com experimentações um tanto quanto desconcertantes, que podem vir a gerar confusão ao ouvinte, que será obrigado a ouvir mais de uma vez se quiser entrar em sintonia com o trio/quarteto Stuart Marshall, Matt Stevens, Kevin Feazey e Steve Cleaton. Na realidade pode-se até deduzir que não sejam as experimentações a causarem certa falta de orientação às músicas, mas sim no modo como foram construídas e executadas. Não tenha dúvidas de que ouvirá trechos e passagens de forte impacto e beleza, mas a banda parece se deixar levar por sua própria criatividade ao ponto de não controla-la, e acredite isso não costuma ser tão bom quanto parece. Só que neste caso vale a pena tentar entender o porquê de soarem assim, já que abrangem vários aspectos sonoros bem interessantes, mas dão uma dica ao colocar também “soundtrack” entre suas tags.
“O dinamismo excessivo da música pode agradar ou desagradar, dependendo do ouvinte. Eu adorei. O desempenho dos instrumentos é muito bom.” — Rômulo Alexander
“Apesar de não ser muito fã de música instrumental o som deles "me pegou", curti o ritmo, bem pesado e com um groove bacana.” — Marcos Alves
"Instrumental bem executado. tem uma mixagem impecável que dá gosto de ouvir e ouvir e ouvir…" — Luccas Camilo
"Bem interessante, post-rock é um gênero que está saturadissimo a um bom tempo, o trio consegue demonstrar alguns respiros de criatividade em seu som, apesar de em algumas horas não soar muito coeso." — Koticho
Falando mais especificamente do único full-length do grupo, “If It Carries On Like This We Are Moving To Morecambe”, de 2011, o rumo — muitas vezes incerto — une-se ao aparecimento oportuno de passagens eletrônicas, de riffs, saxofone, piano, dissonâncias e outros. Eu ainda não disse, mas é um projeto totalmente instrumental, e isso faz de seu trabalho ainda mais intimista com seu público, que julgando pelo caminho que seguem só pode ser seleto.
Pessoalmente, aprecio o som deste trio/quarteto londrino ao ponto de facilmente indicar faixas como “part 2”, “666...6” (vídeo acima — música presente em On VHS, seu novo Ep) e, principalmente “Andy Fox”, que contou com a participação do saxofonista Terry Edwards (que já contribuiu com nomes como Spiritualized, Nick Cave, The Jesus and Mary Chain, PJ Harvey, Lydia Lunch, Faust e muitos outros).
“chato, cansativo, “sem pé nem cabeça” — Forbidden, Renato Nagano e Gabriel Ciola
“Parece caber bem em sua proposta, mas para ouvir assim é cansativo.” — Rômulo Alexander
E por falar em falta de orientação, dissonâncias e dificuldade em interpretação por parte do ouvinte (neste caso ouvir mais de uma vez pode não garantir o entendimento), é desse bolo todo que surge a portuguesa Cerebral | Dementia, um projeto que mistura Industrial, IDM, darkwave, psytrance y otras cositas más, o que resulta numa espécie de frenesi de difícil apreciação. Mas pelo visto isto não é problema e nem desculpa para que DJ Cladesferre, mentor e único membro do projeto, desanime em algum momento de compor. Já são cerca de nove releases, destes cinco só no ano de 2010 e três em 2011, tudo alojado lá no Jamendo.
À primeira ouvida seu som gera grande estranheza e automaticamente desclassifica a maioria dos curiosos (pior que concurso público) mas após a segunda e terceira tentativa de degustação é que entendemos que a essência é a de praticamente não agradar, mesmo que se acabe gostando. É aquela história de agradar pelo desagradável, guiar pelo tortuoso e hipnotizar pela falta de concentração.
“O título da banda quer nos dizer algo e eu sinceramente ficaria bastante decepcionado se fosse algo que não remetesse à uma espécie de demência cerebral. Os títulos das músicas mostram a mensagem que se quer ser passada e acho que o som consegue fazer isso. O problema é que o som ainda soa um tanto "amador", os sintetizadores são horríveis.” — Áquila Teófilo
“Dentro da esquisitice que ele se propõe a fazer, se sai muito bem.” — Marcos Alves
"Já tive minha fase de gostar de coisas ruins e achar isso legal, noises barulhentos e sem sentido etc, coisa muito pior do que esse projeto diga-se de passagem, mas ainda assim como já dito, soa bem amador, ainda falta algo pra ser mais doentio e assustador se essa for a intenção, sem isso se torna apenas chato." — Koticho
As características constantes são a repetição, por vezes a monotonia do barulho e a tentativa bem sucedida de fazer música esquisita. Por isso algumas músicas, por mais estranhas que sejam conseguem levar essa mensagem aos prováveis poucos ouvintes. Já outras parecem se perder um bocado, como se fossem regidas por algum tipo de entropia.
Contudo as coisas passam a fazer mais sentido se entendermos algumas de suas referências, ditas por DJ Cladesferre: “Este projeto é inspirado por thrillers, filmes de terror, as mentes, perturbações e etc Eles são o universo deste projeto”. Ou seja, mais que a tentativa de criar músicas bonitas ou um disco digerível, Cerebral | Dementia apresenta-se basicamente como uma extensa soundtrack de suas referências anormais. A demência cerebral é atingida com sucesso, nesse aspecto sua missão foi bem sucedida.
JÚRI
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The Fierce & The Dead
|
Cerebral | Dementia
|
Theverlong
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Forbidden
|
5
|
4
|
7
|
Damien Willis
|
8
|
6
|
6
|
Renato Nagano
|
6,5
|
5
|
7
|
Gabriel Ciola
|
6,5
|
4
|
5,5
|
Rômulo Alexander
|
8,5
|
5,5
|
8
|
Áquila Teófilo
|
9
|
7,5
|
7,8
|
Marcos Alves
|
8
|
7
|
4
|
Luccas Camilo
|
9
|
—
|
—
|
Koticho
|
6,5
|
4
|
7,5
|
Resultado
|
7,4
|
5,4
|
6,6
|
"Por favor, não nos joguem pedras, pois com as pedras que vocês jogarem nós construiremos absolutamente nada, porque teremos preguiça em fazer qualquer coisa com elas."
E ah, se continuarmos assim em breve poderemos abrir nosso próprio Ídolos.
Cerebral | Dementia:
Antes de maism um muito obrigado pela oportunidade que me deram e pela vossa disponibilidade de escutar os meus sons. É verdade, que o meu som não é fácil de se entender e muito mais de ouvir. O álbum que ouviram, revela sim amadorismo e bastante sacrifício físico e mental!!
A minha intenção não é compor músicas, mas sim de criar músicas. A minha intenção não é compor músicas, mas sim de recriar um ambiente sem imagens visuais. E o mais complicado é passar loucuras para som!! Contudo, de álbum para álbum houve ma boa evolução bem positiva. E os synths se enquadram bem para o tipo de ambiente e som que desejei nessa altura.
Quem é que entende a própria loucura? Uso a música para que os ouvintes possam mentalmente imaginar ou recriar as loucuras com seu próprio jeito de apreciar e sentir!! Mas para isso é necessário de entender o estilo, o som e a própria música, associando-as aos temas das músicas. É necessário de que o ouvinte consiga mergulhar nesta estranheza (como vocês dizem)de sons e ambientes.
Devia de ter feito uma melhor apresentação do meu stuff na altura que vos escrevi. O está feito está feito!! E a nota de 5,4 é muito boa e especialmente para as vossas diferentes reacções às músicas.
Cumprimentos pessoa e mais uma vez um muito obrigado.
Este comentário foi removido pelo autor.
Exsecratvs,
Quero te agradecer por tua vontade de indicar o seu trabalho e por ter vindo aqui dar o seu parecer.
Nós (e principalmente eu que sou novato) estamos apenas engatinhando nisso de fazer trabalho de crítica musical, apesar de já fazermos isso implicitamente nas resenhas comuns. E esse trabalho se torna ainda mais complicado ao julgarmos algo que está tão fora dos padrões do que costumamos chamar de "normal".
Como eu disse na minha crítica, o seu trabalho está fazendo muito bem o que se propõe a fazer. Acredito que estejam aí muitas experiências e sentimentos íntimos, algo que nos seria impossível julgar.
Agora como você falou também notei essa melhoria nos trabalhos e vi que o último álbum tem umas batidas frenéticas bem legais. Tanto é que minha nota foi acima da média das outras, talvez por já estar relativamente acostumado com este tipo de som.
Como o Damien já falou aí acima, estamos aqui para divulgar futuros materiais, que serão bem-vindos. E eu tenho certa preferência por temáticas acerca de insanidade e loucura.
Parabenizo mais uma vez e desta vez também por tua postura diante das críticas.
Um abraço.
Obrigado novamente pelas respostas. Compreendo o vosso lado e especialmente de serem imparciais a nívl musical para escutar e fazer uma opinião sobre a músicas que gostam e que não gostam.
Vejo as vossas como um bom incentivo para continuar. Para os ouvintes perceberem melhor a temática do meu som, preciso de fazer um óptima apresentação do meu trabalho. Entre vocês, os que estão mais familiarizados com o movimento industrial, são os que conseguiram chegar à essência daquilo que a minha música representa. Como poderia reagir mal à critica. Se gostamos de ouvir ou ler coisas positivas, também temos de aceitar as menos positivas. É um estímulo para tornar os trabalhos bem melhores. E mal agradecido estaria a ser eu se vos falasse mal, porque vocês prestaram um opinião. E se nós formos a ver, usando a temática da minha música, nem toda agente reage bem a uma loucura. Nem toda a gente sente ou ente as loucuras. Nem os entendidos (psiquiatras e Cia)!!
Até vos confesso, no principio até queria fazer filmes sem imagem visual, mas sim com a imagem mental. Mas é muito difícil. Com os álbuns de 2011, tentei fazer música industrial experimental o menos imersivo possível. Com isso, o projecto perdeu a essência inicial. E um dos erros que cometi foi ter feito muitas misturas de diferentes sonoridades com o projecto Cerebral | Dementia e assim acabei por me distanciar em concreto daquilo que queria fazer. Actualmente tenho mais 4 projectos em que sou o único membro, para separar os tipos de música que misturei no projecto Cerebral | Dementia.
Damien, para já do pouco que li do link achei interessante. E a perspectiva ideológica do Peter Greenaway é algo de semelhante à minha. Não conheço bem os trabalhos do Peter Greenaway, especialmente os shortfilms. Acabas-me de dar uma boa fonte inspiração para futuros trabalhos. Para ouvir a minha música é como ouvir os trabalhos da Diamanda Gallas. A minha música é como ver um filme. Não estes filmes mainstream que só de veres um pouco, conhecemos logo o final!!
Até vos conto mais. A temática da minha música é baseada em alguns aspectos da minha e da vida quem eu admiro, devoto e gosto. Mas a maioria das temáticas são inspiradas em aspectos que li. E para entrar melhor no projecto, passei umas boas noite sem dormir para que o meu cérebro entrasse no cenário!!
A nível técnico, os álbuns mais bem elaborados foram o "Self-Mutilation", "Psycopath" e posso dizer o "Phobia". Os mais fracos são o "Extra-Dementia" e o "Dementions".
Mais uma vez vos agradeço pela atenção e ajuda. E já que estou aqui deixo-vos o link do meu projecto APOC4LYP53. É um projecto de metal industrial extremo. Em brincadeira chamo de Extreme Cyber Metal!! E este projecto é uma brincdeirinha sobre a profecia do 21 de Dezembro de 2012!! Não tem nada de igual ao projecto Cerebral | Dementia!!
Cumprimentos Áquila e Damien.