quarta-feira, 5 de setembro de 2012
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Playlists do Porco #1 - A Inexorável Ação do Tempo

2 comentários

Caros leitores assíduos, que subsistiram ao segundo grande ataque e continuam nos acessando mesmo após mais uma queda. Nos reerguemos, mais uma vez, e, para celebrar o retorno, nos valemos da máxima de que "novos tempos pedem novas atitudes". Uma nova seção se inicia no Ignes Elevanium: são as Playlists do Porco.
Todo mundo adora um amontoado de faixas aleatórias, de estilos distintos, que se unem umas às outras por um tema em comum. E aqui você poderá esperar de tudo. Os temas serão os mais diversos, e permitirão aos postadores uma maior divagação em seus textos.
Pra começar, um assunto delicado, que certamente já passou pela cabeça de todos nós. A Inexorável Ação do Tempo.

Não tem jeito: você pode ser forte, saudável e gozar de invejável vigor físico, e isso não será o bastante para você barrar a ação do tempo, levando pouco a pouco cada uma dessas suas características. É o que dizem por aí. A ação do tempo é inexorável, a única certeza da vida.
E a resignação se forma por vários aspectos: o envelhecimento, as responsabilidades que se acumulam ao longo dos anos, as mudanças que a vida traz e, como não poderia deixar de ser abordado, a morte. As músicas escolhidas trazem, cada uma delas, um aspecto diferente sobre o correr dos anos. Algumas de forma mais direta, outras de modo abstrato - nessas, inclusive, pode até ser que o compositor nçao tenha a intenção de dizer nada disso, mas é assim que interpretei. Essa é a magia da arte, certo? O destinatário interagir com seu autor, interpretando-a e tornando-a dotada de um significado subjetivo. Vamos às faixas.

#01

Do you realize that everyone you know someday will die?

"Do You Realize??", um dos maiores sucessos do The Flaming Lips, é praticamente um hino acerca da velocidade do tempo e suas implicações. Uma das falas mais impactantes da letra é uma simples constatação, que todo mundo sabe, mas não costuma pensar sob esta ótica: todo mundo que você conhece, sem exceção, um dia vai morrer. A solução? O próprio Wayne Coyne, o compositor, nos mostra uma resolução paliativa do problema: faça as pessoas saberem que você se deu conta de que a vida passa rápido, porque difícil fazer as coisas boas durarem.

#02

 A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá.

 Pode até ser um belo de um clichê, mas há alguma música no mundo que demonstre mais perfeitamente o que é a ação do tempo do que "Roda Viva", de Chico Buarque? Obviamente, o contexto era completamente diferente à época de sua composição. A roda viva da letra estava apenas disfarçado de "tempo", quando na verdade queria dizer "regime militar", mas não podia fazê-lo abertamente, sob pena de tortura e morte, como era comum nos tempos obscuros de nossa história. Qualquer uma das interpretações, entretanto, cabem perfeitamente. Nem sempre os planos que são feitos conseguem ser executados. Na época, não só pelas linhas tortas do tempo, mas principalmente por conta da repressão.

#03
Well I hope that someday buddy, we have peace in our lives. Together or apart. Alone or with our wives.

Esquisitão e sorumbático, o americano Bonnie "Prince" Billy lançou, em 1999, o álbum "I See a Darkness", sua masterpiece, de onde tiramos a faixa homônima, que parece se encaixar perfeitamente nessa lista. Falando sobre as perturbadas visões que o atormentam, em muito provocadas pela incerteza de um futuro bom, o compositor fala de seus desejos para o amanhã, de como a vida pode mudar e de como nós não temos a menor dimensão do que irá acontecer. Apesar de ser absurdamente negativo ao longo de todo o álbum, ele não deixa de demonstrar seus anseios por uma vida tranquila, para si e para as pessoas próximas - muito embora deixe transparecer a ideia de que não é isso o que ocorrerá.

#04
Em cada esquina cai um pouco tua vida. Em pouco tempo não serás mais o que és.

Um sermão à mocidade. É isso o que o grande Cartola faz em "O Mundo É um Moinho", retirada de seu segundo álbum homônimo, de 1976. Do alto de sua experiência, de quem viveu muito, na acepção mais sofrida da palavra, o sambista desfere um choque de realidade àqueles que, de forma egocêntrica e impassível, acham que, mesmo jovens, já sabem de tudo o que a vida tem a oferecer. Cartola nos abre os olhos, mostrando que o caminho é longo, e que o tempo se encarrega de nos colocar em nosso lugar.

#05
What makes a man pray, when he's about to die?

"What Makes a Man?", uma das mais tocantes faixas do City and Colour, projeto do canadense Dallas Green, é um ensaio sobre como um homem se afasta de seus ideais, ao longo de sua vida. Como a vida adulta, as responsabilidades e a sociedade acabam por impor ao indivíduo um ritmo de vida com o qual ele nunca sonhou, uma rotina que o desagrada, mas que consome grande parte de seu tempo e energia. Uma perturbadora elucidação de como o tempo pode mudar não só a nossa aparência, mas também a nossa personalidade.

#06
Been talkin' 'bout the way things change.

"Rivers and Roads", da banda de Indie Folk The Head and the Heart é o carro chefe de seu álbum homônimo, lançado no ano passado. Com melodia e ritmo bastante tenros, traz uma letra que, de certa forma, é até simplória, mas que sabe retratar as pequenas mudanças que o tempo acarreta em nossas vidas,.Afinal, não é só de drásticas viradas que a vida é feita. Acontecimentos menores, como o afastamento dos amigos ou o ato de sair da casa dos pais, também são consequências da passagem do tempo.

#07
One of us will die inside these arms. Eyes wide open, naked as we came. One will spread our ashes round the yard.

 Sob um enfoque mais belo do que entristecido, Iron & Wine traz a faixa "Naked As We Came", inserta em seu álbum Our Endless Numbered Days, que em seu próprio título já dá uma ideia do tom de consciência da própria finitude que o registro traz em suas letras.As letras retratam, aqui, a ideia de envelhecer junto com alguém, compartilhando os bons momentos em casal, até o final da vida.

#08
Show me the place where the suffering began.

 Um dos maiores compositores da história, ainda em atividade, o canadense Leonard Cohen lançou no começo desse ano o álbum Old Ideas, do qual retiramos "Show Me the Place", faixa em que sua voz grave característica se mostra bastante eficiente com a produção crecsente, que inclui, até mesmo, corais. Pedimos licença, aqui, para interpretar a letra. De um modo meio que abstrato, Cohen fala sobre as agruras que teve de passar ao longo dos anos, e o como foi preciso se redescobrir e encontrar novas alternativas para se livrar do sofrimento. Ou, sinceramente, pode ser que ele não tenha a intenção de dizer nada disso.

#09
And now I'm older see it face to face. And now I'm older gotta get up clean the place.

 Em "Place to Be", do clássico álbum Pink Moon, Nick Drake nos brinda com um retrato preciso do  que é ser criança um dia e, depois, tem que começar a se preocupar com responsabilidades, a fazer as coisas por si só e, mais do que isso, a lidar com sentimentos e sensações conflitantes, que, muitas vezes, podem causar grande sofrimento. O compositor não lidou muito bom com esse fato: em circunstâncias até hoje inexplicadas, o inglês amanheceu morto em seu quarto, aos vinte e seis anos.

#10
 Lord have mercy, have mercy on me. Till him to bury my body back home in Jackson, Tennesee.

 "New York Is Killing Me" é uma profética composição de Gil Scott-Heron, retirada de seu último álbum, I'm New Here, de 2010. A letra mostra a trajetória do autor, que, por conta dos rumos que a sua vida tomou, se viu obrigado a deixar a pacata Jackson, no Tennesee, para morar na cosmopolita Nova York, enorme metrópole que, pela estilo de vida acelerado que impõe aos seus habitantes, acaba por lhe tirar a vida, pouco a pouco. Trata da vontade de voltar a um tempo pacato, o que não é mais possível. Scott-Heron faleceu em aproximadamente um ano depois da composição dessa faixa.

#11
Naquela mesa tá faltando ele, e a saudade dele tá doendo em mim.

"Naquela Mesa" é uma composição de Sérgio Bittencourt, de 1970, eternizada na voz de Nelson Gonçalves, cuja versão aqui apresentada traz a voz do ótimo artista pernambucano Otto.  Trata-se de uma homenagem póstuma ao pai do compositor, cuja falta doída era agravada quando olhava para um canto específico de sua casa, onde seu progenitor gastava a maior parte de seu tempo. Retratando elementos cotidianos simples, a composição emociona e é, provavelmente, a melhor canção brasileira acerca do tema.

#12
But my heart, it don't beat, it don't beat the way it used to.

De Sam's Town, segundo disco do The Killers, retiramos "For Reasons Unknown", composição do vocalista Brandon Flowers. Mais uma vez, o tema do envelhecimento é abordado, com destacado enfoque nas pequenas ações e funções do corpo: um coração que não apresenta mais o mesmo vigor de outrora, lábios que não beijam mais com a mesma disposição, e a imegm refletida no espelho, cada mais velha e fria.

#13
And I don't wanna cry my whole life through. I want to do some laughing too.

 O duo Girls, em seu álbum de estreia, intitulado, apenas, Album, nos apresentou a excelente "Hellrole Ratrace", uma das mais melancólicas composições que o animadinho mundo do Indie Rock já conheceu. O tempo, aqui, é abordado não como forma de lamentação, por ter passado rapidamente, como em algumas das faixas supracitadas, mas sim com o temor da consciência de que ele está passando, e que é preciso se aproveitar cada segundo. A angústia que se torna revolta, transmutando-se, por fim, em atitudes.

#14
Ê vida à toa. Vai, no tempo, vai.

Sentimento e samba são palavras afins. Por isso, não poderia faltar João Nogueira e seu "Espelho". Mais do que um amontoado de lembranças, a canção demonstra perfeitamente a trajetória de seu compositor, desde os tempos de criança suburbana até os seus dias de fama e glória. Uma visão delicada e absurdamente tocante de como o tempo passa, ao passo que as dificuldades vêm e vão.

#15
Leave all the stress from the world outside. Every wrong done will be alright.

 O tempo maltrata, mas também cura. Sob essa premissa é que Nas fez uma versão revisitada de "Thugz Mansion", clássico de 2Pac. A canção traz uma visão utópica, mas cheia de esperança, na qual o tempo, tão maltratado pelas composições musicais, possa se encarregar de erradicar o sofrimento no mundo. A faixa conta, até mesmo, com um verso póstumo de 2Pac, uma das razões pelas quais a sua morte é ainda, até hoje, rodeada de mistérios.

#Bonus Track
Hoping I can write her a rhyme, that might stop the tick of time.

 The Kooks não é exatamente conhecida por ser uma banda de composições rebuscadas, e "The Tick of Time" talvez seja a mais fraca das letras aqui elencadas, mas, depois de tanta tristeza, entendi por bem colocar uma composição alegre. É uma simples balada manifestando a vontade de um jovem conseguir parar o tempo para rearranjar as coisas e fazer tudo dar certo.


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2 Responses so far.

  1. Não sou muito de playlists, mas realmente, essa ficou bem boa, assim como o post, parabéns PH.

  2. Playlist muito legal. Thumbs up

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