Este ano eu saciei algumas curiosidades sobre bandas de estilos, digamos, não convencionais, tocando suas músicas bizarras ao vivo. Por exemplo, vi um show de Funeral Doom Metal e um de Sludge/ Drone (vide o Porco na Cena #1), vi um show de Depressive Black Metal, vi um show de Avant Garde/ Dark Cabaret (nem preciso dizer o nome da banda, né?), além de outros eventos que eu sempre fomentei certa animação em ver, como alguns concertos e- quem diria- um show de rap. Pois bem, o que mais faltava? Óbvio que um show de Free Jazz!
O show foi na última terça feira, no badalado e bem conceituado SESC Pompéia em São Paulo (próximo à Barra Funda). Abaixo, o teaser do show:
Correndo o risco de entrar em contradição com o que foi dito anteriormente: talvez ''Free Jazz'' não seja o melhor rótulo para classificar o trabalho do trio carioca. Afinal, em meio ao experimentalismo, à improvisação e às camadas de baixo, bateria e guitarra que se entrelaçam entre si, formando uma sonoridade carregada de efeitos de pedais, o grupo talvez se encaixe melhor na nova vanguarda da música experimental- o chamado Nu Jazz, que transforma o Jazz como o conhecemos em algo a mais quando se junta ao Noise, Avant Garde, Música Eletrônica e o que mais vier. Ainda que tentemos classificar este gênero, sua principal característica é ser totalmente livre, assim como a música do Chinese Cookie Poets.
Agora, tentem imaginar o clima. Plena terça- feira, um longo dia de trabalho e simbora até o SESC. Foi o dia com menor índice de umidade do ar em três anos (10%), estava um baita C A L O R- e haja vontade para encarar o metrô no horário de pico de um dia útil! Localizada numa área de fácil acesso, perto do shopping West Plaza e de supermercados, não foi difícil chegar a tempo. O que me faz pensar em todos os eventos que eu perdi nesse lugar.
Pois bem, o show começa num clima intimista e numa atmosfera, digamos, noir- uma choperia esfumaçada, e embora a música não seja lá tão convidativa a uma dança, algumas pessoas se animaram em (na falta de uma gíria melhor e menos tosca) balançar o esqueleto. Iniciando em um improviso, a banda logo manda Plastic Love, de seu primeiro álbum lançado em março deste ano. Eu simplesmente adoro o baixo dessa canção- o timbre que Felipe Zenicola utiliza já me agrada à beça! E, como é comum no estilo, a bateria de Renato Godoy é insana, o kit todo é utilizado em apenas alguns segundos. A guitarra empunhada por Marcos Campello, amparada por vários pedais, destila riffs numa absurda amálgama de efeitos e técnicas.
De seu EP lançado em 2010, o CCP segue com Bone Catcher com uma pegada mais puxada para o funk. Mandando mais dois improvisos e uma nova canção, outra faixa do EP é executada: Dissident Lounge, com riffs, digamos, menos bizarros para os padrões da música experimental. Worm Love é a sétima música a ser executada, um tanto quanto drone, com o grande destaque para a bateria. Free the Monkey não começa tão diferente; a bateria, sempre enérgica, acompanhando as notas abafadas do baixo e da guitarra. Talvez essa canção tenha o tema mais marcante do show: de sua metade para frente, ela mostra bastante groove e entrosamento dos instrumentos. Seguindo de mais um improviso, partem para Chinatown Blues, também com algum groove e- vejam só- com alguns trechos em que um típico headbanger sentiria vontade de bater cabeça. Ao final, uma bateria mais cadenciada e simplista, dando brecha para que Marcos mostre o que sabe com sua guitarra- e realmente o faz! Em certos trechos é impossível acompanhar a velocidade com que suas mãos se movem.
Este foi o show do Chinese Cookie Poets no SESC Pompéia, numa noite quente, regada a cerveja e música experimental. E, fazendo uma pequena propaganda aqui, haverá outra apresentação do trio em São Paulo no dia 13 de setembro, no Centro Cultural de São Paulo (próximo à estação Vergueiro). Quem puder ir, que vá, pois realmente é um programa em mil!
Setlist:
1- Improviso
2- Plastic Love
3- Bone Catcher
4- Sufi in Usa (nome provisório)
5- Improviso (Radial)
6- Dissident Lounge
7- Worm Love
8- Free the Monkey
9- Improviso (tema do Marcos)
10- Chinatown Blues