domingo, 24 de janeiro de 2016
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BANDAS AMIGAS #10 - Cássio Figueiredo

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Confesso que é um pouco estranho chegar a esse momento da carreira de Cássio Figueiredo, quem um dia já fez parte da staff do Pignes e sempre será meu bom e grande amigo Cás. Até a própria afirmação ou questionamentos do sujeito – fazendo um trocadilho medíocre com uma das produções dessa “nova” fase que, por fim, não é uma fase e sim ao que parece o zênite de uma produção contínua ou quase contínua – me puxa lembranças e indícios de uma época que, agora, parece tão evidente que Cássio convergiria. Sempre fui muito fã de sua trajetória (sobretudo do ponto de vista estético da coisa), de ver alguém tão jovem com um peso artístico tão grande passado por nós de maneira sorrateira e que vem se consolidando com o tempo; como ele próprio me disse recentemente “você me viu crescer”. E vi, sim, cresceu como pessoa e como artista que, quase como um deja-vu, eu volto para falar da música do Cás aqui no site como um dia fiz em Less.

Cito Less porque vejo a essência do artista por trás da música transmitida de outra forma bem diferente. Neste tão antigo projeto, Cássio trazia uma reminiscência pesada do Metal efervescente da época (da nossa e da dele). Contudo, o modo caseiro e despretensioso de fazer a coisa, a subversão do feio como belo, o contrassenso da musicalidade e harmonia já presente em seus primeiros ensaios se arrastaram e se elevaram, ou melhor, decaíram (no sentido de "se recolheram", "tornaram-se intimista", "voltaram para dentro") faixa a faixa à medida que Cássio vinha se encorpando ao Noise, ao Shoegaze, ao Drone e às diversas experimentações que um artista pode fazer para expressar sua criatividade, até chegar ao momento mais intimista e maduro que eclode em seu último lançamento, Presença (2016), disco este que tem ainda a parceria com Cadu Tenório, quem por sua vez já foi citado em seu trabalho ao lado de Juçara Marçal aqui.

Esses dias, refiz quase toda trajetória de Cássio em sonoridade e fotografia, tracei as texturas e tudo me comove e leva a pensar que Presença é sim um disco pessoal – do artista para conosco e do artista para com ele –; não que os demais não sejam (sempre é), mas este em especial soa com um rito de passagem, o início ou fim de uma era; Cássio também me disse que talvez a diferença de Presença para os demais discos lançados foi seu tempo de maturação até ser de fato lançado. Como falei anteriormente, o que me chama atenção não é apenas a música dele em sua forma técnica, exposta na sonoridade de violão, violino, software, gaita, colagem de som digital, fita cassete ou, como ele mesmo me disse “objetos”. Contudo também a interligação da música com as sensações/emoções, historias por traz da criação (onde fez? como fez? por que fez ou pra quem fez?), a estética dos projetos e conceitos que, por sua vez, falam por si só.

Por fim, não adianta dissecar disco a disco, tendo em vista que Presença é evidente, porém não é o único. Cá presenciamos a notoriedade da música de um artista de muito tempo, onde Cássio Figueiredo traz vários projetos nas costas com músicas que precisam obrigatoriamente serem ouvidas e não explicadas, pois é sempre válido ressaltar que a música é acima de tudo subjetiva. Do meu lado, aquele que acompanha a trajetória, me faltam palavras para expressar o orgulho que sinto por esse menino (que sempre foi precoce) e digo, não apenas por mim, mas por todos os outros daqui do Ignes que são da mesma época que Cás, que este foi um bandas amigas que já um tempo devíamos a ele e, particularmente, escrevi com lágrimas nos olhos, pois levo ao sentido bem literal da ideia: amigo.

Less / Inutiargu / "Partir" de Projétil / Cássio Figueiredo / Soundcloud

Presença (2016)


O nome "presença", assim como a imagem escolhida pra ilustrar, foram questionados por mim como escolha pra esse trabalho durante todo o tempo que se passou desde o momento final das gravações até hoje, um dia depois de eu ouvi-lo finalizado pela primeira vez. Minha dificuldade de escrever sobre tudo o que aqui se manifesta perdurou por todo esse tempo e persiste até agora. Meu esforço e insistência em tentar descrever essa presença que sinto, o clima que me envolve, os símbolos que com tanta força tento interpretar da melhor forma possível. Está tudo aqui, disperso e junto, caótico e distinto, e minha carta de rendição a qualquer forma de separar criador e criatura.




Sujeito (2015)

A busca pela construção de um eu lírico sedento por identidade e por uma delimitação frágil o suficiente para admitir a ocorrência de posteriores alterações. 

Vejo o projeto como uma exposição do exercício reflexivo de um autor puramente empírico. Sem grandes pretensões, a minha intenção foi justamente a criação de uma obra relativamente não-convencional que expusesse da maneira mais egoísta (aqui no melhor sentido da palavra, se é que existe) o que provém de mim, das minhas experiências e impressões. 

Longe de ser a única leitura válida e que põe fim e limite ao EP, é antes apenas uma das várias que podem o preencher de significado, ou paradoxalmente o despir do mesmo, visto que é tão íntimo que pode chegar a não apresentar mesmo signo nenhum. 

"Sujeito" é uma exaltação ao modo corrente de percepção de si enquanto indivíduo. 

Enquanto indivíduo que ama, que sofre, que vive, que percebe, que conhece, que sente, e que pensa. 
E ao mesmo tempo que não está livre das amarras das suas próprias paixões, desejos, afetos, relações e ideias. 

Pois está e é sujeito. 

A si, e a todas essas coisas.


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