terça-feira, 5 de janeiro de 2016
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Os Melhores Discos de 2015 por Ariel

1 comentários

Sei que pensaram que 2015 não teria o seu apanhado por nós do que de melhor proporcionou, mas o intuito em postar os tops nesse início de ano foi para que nenhum disco lançado e escutado por nós durante o ano fosse injustiçado (sobretudo aqueles lançados em Dezembro), e seguimos ainda a linha do ano passado de posts individuais que tanto deu certo e pode expor a peculiaridade de cada um da staff do Pignes. Dessa vez em uma versão mais enxuta e breve (10 discos apenas), dos quais serão postados ao longo dessa semana, começando por mim (Ariel).

Este ano que passou foi daqueles cheios de reviravoltas, das bandas que lançaram seus discos mas não comoveram e daquelas que eclodiram surpreendendo a todos. Particularmente, 2015 foi o ano que escancarei a porta dos gostos e experimentações e fui do Black Metal ao Samba na mesma noite. E igualmente reafirmei a identidade com as bandas que contam a minha historia, me acompanham a vida.


10ª) Irfan - The Eternal Return
World Music / Experimental / Ethereal

Começando pelo tão aguardado por mim The Eternal Return, disco este que marca a volta de Irfan após 8 anos de hiato criativo desde que o mundo conheceu o maravilhoso Seraphim. Se antes eu já sentia que Irfan era a trilha sonora perfeita para um romance ao estilo Mil e Uma Noites, The Eternal Return veio para consolidar esta sensação em estado quase pleno.

Este disco é uma viagem pelo deserto do Saara, pelo misticismo por trás das músicas que falam de Getsêmani (um jardim situado em Jerusalém e que acredita-se que foi onde Jesus e seus discípulos tenham orado na noite que precede à crucificação de Jesus) e das visões de Hildegard von Bingen, e claro não posso deixar de citar o embasamento sonoro proveniente de instrumentos de percussão e dos vocais etéricos masculinos e femininos tão peculiares e apaixonantes de Irfan.




09ª) Sangre de Muerdago - O Camiño das Mans Valeiras
Folk / Neofolk

A primeira coisa que me cativou em Sangre de Muerdago, por incrível que pareça, foi a sonoridade das palavras do nome da banda. Em seguida, claro, veio a sonoridade das músicas. Também não é uma banda inédita por aqui tendo em vista que Saez postou o disco Deixademe Morrer no Bosque (ainda hoje o meu preferido da banda).

Em uma base instrumental acústica com flautas em demasia, as letras (e sonoridade) sobre a natureza seguem cantadas no maior estilo heavenly voices em O Camiño das Mans Valeiras, onde encontramos uma Sangre de Muerdago mais feérica e orgânica que sempre.



08ª) Lebanon Hanover - Besides The Abyss
Coldwave / Post-Punk / Minimal

Uma das coisas que sempre me abalou em Lebanon Hanover é a delicadeza decadente e poética da arte sonora e, curiosamente, também visual da banda. Reconheço que prezo muito pela estética e me deparar com os filtros, lugares, cores e synths de Lebanon Hanover chega a doer de tanta paixão! Sobretudo, porque nunca uma banda conseguiu personificar ou materializar sensações da sonoridade de suas músicas de forma tão harmoniosa como LH. As capas dos discos falam por si próprias.

Besides The Abyss tem sim um caráter mais intimista, seja pela composição sonora, pela proposta do disco ou as letras das músicas. A estrutura musical de Lebanon Hanover é a mesma: o vocal cru, grave e gélido de Larissa (que ainda canta em alemão) com o vocal emotivo de William, junto aos supracitados synths disformes, linhas de baixo duras e riffs canalhas psicodelicamente estendidos em uma composição minimalista e trevosa – daquela velha tentativa de revival goth 80’s que a banda carrega. Besides The Abyss soa ser uma noite mais escura e fria às criaturinhas cheias de clichês que vagam solitárias e de preto por aí. Como uma vez disse, Lebanon Hanover é coisa finíssima!

Ouça: Spotify


07ª) Gallows - Desolation Sounds
Hardcore / Punk Rock

Desde 2012, Gallows vem desgraçando minha vida com seu belíssimo disco homônimo à banda. Como todos sabem, Gallows sofreu uma troca de vocalista (de Frank Carter para Wade MacNeil) e isso, ao que parece, afetou consideravelmente a sonoridade da banda. O primeiro disco "Orchestra of Wolves", lançado em 2007, é uma coisa crua e uma porrada seca, o segundo disco "Gallows", lançado em 2012 – já com o novo vocalista –, ao meu ver é mais elaborado e equivalente a uma briga de rua, porque é uma desgraceira a níveis furiosos.

Desolation Sounds talvez seja o disco de alguns níveis abaixo e o próprio nome já diz um pouco do que esperar. E, mesmo não querendo fazer essa comparação, preciso dizer que Gallows aparece com uma sonoridade tão amena perto do que foi um dia que me remete muito ao Post-Punk (no sentido pós-punk literal mesmo) em determinados momentos. Mas não se engane, Gallows ainda é desgracento e, de um jeito ou de outro, a trilha sonora perfeita para quebrar a casa inteira!

Ouça: Spotify


06ª) Graveyard - Innocence & Decadence
Hard Rock / Psychedelic Rock / Stoner Rock

Graveyard segue comovente e sendo a reencarnação da sonoridade  setentista em dias atuais. Chega a ser indescritível o modo como as músicas desta banda me quebram e me possuem – quase como uma possessão demoníaca de pura luxúria mesmo. Innocence & Decadence pode ser definido em apenas uma palavra: Frenesi, nunca um disco conseguiu uma sequência de faixas tão alucinógenas como este.

Estou exagerando, eu sei, contudo Innocence & Decadence se resume a  11 faixas de riffs estendidos (arrastados ao nível superior que se pode distorcer ao que tange a psicodelia), batidas claro frenéticas de bateria (uso demasiado de tambores) e o baixo é a sensação sonora que eu teria se montasse no próprio capiroto. Não que seja uma peculiaridade do disco ou da banda – muito embora o modo como Graveyard vem nos conduzindo através da excelente sequência de seus discos me faça questionar isso –, mas esse resgate da sonoridade setentista chega a ser entorpecedor.

Ouça: Spotify


05ª) Filipe Catto - Tomada
MPB

Imagino o peso e desafio que devem ser (ou não) para um artista lançar um disco após o boom de outro; não um simples boom, mas um boom de ápice, um boom do melhor disco da carreira e (Pasmem!) um boom no primeiro full-length da carreira. Em 2011, Filipe Catto esmurra a porta e nos enfia poesia goela abaixo no sentido mais passional que Fôlego foi. Como superar ou equalizar um disco assim?

E assim, como todo tempo de maturação pra tudo na vida, em 2015, Catto nos esmurra novamente com Tomada. Chega a ser irônico o fato de Tomada não ser urgente, derradeiro como Fôlego (as comparações são inevitáveis), no entanto igualmente passional e poético, como alguém que cresce e aprende. A essência da música de Catto permanece: a temática do cotidiano (das palpitações do amor não-correspondido), do lúdico em não se amarrar e passear por vários gêneros musicais e das músicas em poesia pura. Tomada é um amor maduro.

Ouça: Spotify


04ª) Paradise Lost - The Plague Within
Doom Metal

Nem de longe sou uma conhecedora dos incontáveis subgêneros que permeiam o que concebemos como Metal, tampouco Paradise Lost foi uma banda que me acompanhou por anos a fio como outras que foram citadas nesse post. Contudo, é inegável que a linha que separa os gostos musicais, tribos ou seja lá o que for é realmente muito tênue, sobretudo para quem gosta de músicas “góticas” e sempre esbarra no Doom Metal.

Reconheço que para mim Paradise Lost nem sempre esteve tão bem ou foi digerível, mas o que encontramos em The Plague Within é uma aula de Doom Metal em sua essência: pesado e introspectivo, seja pela extensão do contrabaixo – sempre muito evidente no gênero –, pelos riffs pesados e cadenciados de guitarra, pela batida nomeada por mim de apocalíptica de bateria ou até mesmo pelos vocais guturais e limpos (em segundo plano). E, claro, Paradise Lost continua sendo uma das bandas com maior número de capas belíssimas de discos.

Destaque para "An Eternity of Lies" (e seus violinos) e "Punishment Through Time".

Ouça: Spotify


03ª) Dystopia Nå! - Dweller on the Threshold
Depressive Black Metal / Atmospheric


Talvez eu seja uma tradicionalista, talvez não. De qualquer forma, foi-se o tempo em que eu me jogava aos lançamentos e gêneros desconhecidos e procurava de fato novas sonoridades. Hoje, com o tempo em escassez, volto sempre às mesmas fontes, acompanho as mesmas bandas, fidelizo as novidades de outrora, mas também procuro ouvir o que os outros membros do Ignes escutam, e assim esbarrei em Dystopia Nå! (banda também já postada pelo Saez aqui).

Black Metal e suas subvertentes sempre foram um reino desconhecido e bem pouco explorado por mim. Conheço tão pouco que nem vale citar, mas as bandas ou discos que gosto, gosto mesmo! Seja por puro amor ou pela qualidade técnica (que no fim se resume a amor mesmo porque eu não entendo nada de música!). A beleza de Dweller on the Threshold está sobretudo em sua qualidade sonora. Em suma, é um disco tão bem feito que somos obrigados a atribuir todos seus méritos e medalhões. Arrisco a dizer que se o top não fosse individual, e consequentemente pessoal, este disco sem dúvida estaria entre os primeiros, senão seria o próprio medalhão de ouro.

De todo modo, Dweller on the Threshold é sedutor pela própria artwork e suas cores fortes, quentes e frias, dualistas e cuja pintura revela os olhos de alguém oculto em um conceito (proposital ou não) de Gestalt. A primeira faixa Doppelganger é um soco no estômago com a essência do gênero em riffs pesados (entre solos) estendidos, batidas imponentes de bateria e o contrabaixo como instrumento de base sob toda angústia de vocais rasgados e sonoplastia em samples convergindo a uma barulheira frenética. Então eis que a segunda faixa (começa soturna e atmosférica. Uma música bem curta (2:46) à base de sintetizadores que anuncia determinada pluralidade do disco: ora sombrio, ora barulhento; ora extenso, ora breve; ora onírico, ora desesperador e assim por diante.

Dweller on the Threshold é sinestésico ou pelo menos um turbilhão de sensações contingentes. Não é um disco para ser dissecado e sim se deixar dissecar pela beleza do mesmo. Bem como não é um disco propriamente pesado, é denso no sentido mais intimista e subversivo da palavra. Eis aqui uma viagem bela e essencialmente solitária.



2ª) Johnny Hooker - Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!
MPB


Ainda hoje, sei lá quanto tempo depois, meu coração palpita quando lembro de Recife. Por algum tempo eu me questionei se eu gostaria de Johnny Hooker (artista não inédito no blog, tendo em vista que o Luc postou aqui) se não tivesse conhecido Recife, se os dias que passei lá não condissessem tanto com este disco o qual falo cá. Isto porque a cidade é tão caribenha que Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito! parece ser sua personificação sonora.

A resposta foi não, por tantos e tantos motivos que me convergem a um dos poucos discos postados aqui (senão o único), durante todo meu tempo de Pignes, que fala realmente de mim, como mulher, como ser carnal e passional que sou. Um disco que ultrapassa os limites da pessoalidade; que de tão invasivo ao ser Ariel, chegaram a me dizer que lembraram de mim a primeira vez que ouviram a música “Volta” (faixa 2) – que é uma pequena amostra da insolação que Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito! é.

Como eu disse, este disco é carnal, no sentido mais poético da entrega do corpo e coração ao outro. Ele é dramático e voluptuoso, contudo puramente sensorial; as letras das músicas chegam a ser táteis de tão intensas e latentes (daquilo que todos vivemos ou ainda viveremos um dia). Sob uma sonoridade latina (quase brega, como diria Luc na resenha feita ao disco e postada aqui), vivenciamos os aclives e declives de um amor (em meio as chamas de uma paixão), sofremos a dor do término e estado quase derradeiro de desilusão do ser que foi deixado. E, por fim, a superação de um processo doloroso que deixou marcas. Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito! é a sonorização do erótico, do exagerado, do dramático, do intenso em demasia.

Volta!
Que o caminho dessa dor me atravessa,
Que a vida não mais me interessa se você vai viver com um outro rapaz...


Ouça: Spotify


01ª) Lacrimosa - Hoffnung
Symphonic Metal / Gothic Metal


Se de um lado a minha terceira colocação foi eleita pela técnica (conjunção sonora) e do outro a segunda foi pelo caráter intimista. O disco que falo agora e alcança o lugar mais alto do pódio (em meu coração cof cof) pela união da sonoridade com uma banda tão significativa para mim que é Lacrimosa. E assim pelo segundo ano consecutivo, elejo como melhor lançamento do ano um disco que “ninguém” gostou.

Muito embora eu acredite que todos saibam, é sempre válido ressaltar que Lacrimosa é o tipo de banda que só gosta mesmo quem tem uma historia com ela, daquelas que se arrastam anos a fio. Pois é preciso maturidade para dizer que após Lichtgestalt (2005), Lacrimosa patinou muito nas criações e pouca coisa é aproveitável (se é que é aproveitável). Particularmente eu já havia desistido de ouvir o que a banda vinha produzindo e para mim suas atividades tinham sido encerradas no supracitado Lichtgestalt. Contudo, eis que dez anos após o lançamento do mesmo, sob a designação de “Esperança” (em alemão), Lacrimosa me comove e emana toda trevosidade adormecida no peito – que tanto fora regada a litros e litros de vinho barato na mocidade – com Hoffnung.

É ingênuo pensar que Hoffnung é a continuação de Lacrimosa em seus primeiros 10 anos de existência. Contudo, como eu disse, fazia muito tempo que não via a banda tão bem quanto neste disco – que pode muito bem ser concebido como uma reencarnação. Com o resgate dos vocais sussurrados e angustiados de Tilo Wolff, na língua nativa – mesmo na faixa 2, Kaleidoskop, a qual é a única cantada em inglês, o sotaque alemão é forte (como nos velhos tempos), das introduções lentas e arrastadas, da sonoridade triste ou eufórica – e aqui vale destacar o meu amado contrabaixo, tão imponente neste disco –, e claro as letras poéticas. Sonoramente falando, Hoffnung se embebeda do sinfônico e traz também um pequenino pedaço da raiz amputada do Gothic Rock presente nas músicas de Lacrimosa em tempos primórdios.

Estruturalmente, Hoffnung é um disco em queda livre: arrasta-se, eleva-se e despenca. Não é amor a primeira ouvida. Lacrimosa nunca foi uma das bandas que me cativaram de primeira, Hoffnung prova que é preciso insistência para se deixar invadir. Seja lá como for, mais uma vez eu me curvo ao Arlequim que encharca a euforia com tristeza: Lacrimosa é e sempre será a banda da minha vida!

Ouça: Spotify

One Response so far.

  1. Unknown says:

    Sangre de Muerdago, meu Deus, muito obrigado por ter postado isso aí, QUE BANDA!!!!!!! *o*

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