País: Estados Unidos
Ano: 2012
Comentário: Na década passada, acompanhamos de camarote a distorção do que conhecíamos como ritmo e poesia: palavras de indignação e protesto rimadas em cima de beats que se repetiam. Começou na Jamaica, assumiu sua faceta mais consciente nos guetos americanos e, no final dos anos oitenta, o Rap explodiu e contagiou o mundo todo. Depois desse ocorrido, a dita distorção se deu por um motivo muito básico, que ocorre em quase todos os setores existentes, não só na música - muitos aproveitadores pegaram carona na ascensão do gênero para se promover.
E é sobre essa máxima que hoje assistimos "rappers" como Gucci Mane e Wacka Flocka Flame ganharem rios de verdinhas com seus odes ao consumismo e futilidades. Isso nos leva a uma conclusão: embora sejam realmente irritantes as afirmações de gente que acredita que tudo que é bom foi feito no passado, e que a produção musical de hoje não presta, há de se concordar que bate uma saudade dos tempos em que a plavra de ordem era conteúdo. Quando faziam-se letras para mudar a situação adversa de quem se é, e não para aumentar a gama de pertences supérfluos que se tem.
Nem tudo que é feito nesses moldes está no passado, entretanto. Alguns dos ícones do estilo continuam na ativa, como o Wu-Tang Clan, e outros bons e novos talentos surgem a cada ano. No caso do MC I Self Devine, natural de Minneapolis, Estados Unidos, não se pode dizer, exatamente, que seu talento é novo. Ao longo da última década, o MC lançou nada menos do que dez álbuns, sempre mantendo vivo o formato da crítica social e polícita como mote principal do movimento Hip Hop.
E, logo no primeiro mês de 2012, I Self nos brinda com um EP que dá início aos trabalhos do Projeto The Sounds of Low Class America, da Rhymesayers Entertainment. É o primeiro de quatro registros. E a estreia não poderia ser melhor. O disco é uma evocação do passado, mais precisamente em seus primeiros anos de que tem lembrança, crescendo e trocando informações com o ambiente à sua volta, qual seja, uma Los Angeles castigada pela opressão, mas que começava a ver a luz no fim do túnel com a ascensão dos direitos civis e dos movimentos negros de libertação do preconceito.
E esse é o grande trunfo do EP: o compartilhamento de uma história que nos permite conhecer como nasceu e evoluiu a personalidade crítica e inconformista em um dos MCs mais conscientizados do mundo. Além disso, a produção moderna contrasta com o ar de clássico das letras e do flow de I Self, e o faz de maneira oportuna. Pode-se dizer que I Self Devine é um rapper à moda antiga, precoupado com o presente, lutando por um futuro melhor, mas sem esquecer de todo o passado que o fez ser quem é. Pra quem gosta do bom e velho "Concious Hip Hop", e estava com saudade de um bom registro, a série de EPs promete, e, inegavelmente, já cumpre parte dessa promessa logo em seu primeiro ensaio.
[ MySpace / LastFM ]
Tracklist:
- "Intro" - 0:32
- "Dream Crusher" - 2:21
- "Zero to 5ive" - 3:35
- "Death In the Air" - 2:44
- "Diamond Movement" - 3:37
- "Thingz" - 2:35
- "Justice" - 3:21
- "Sweat Equity" - 3:35
- "Bastards of the Party" - 2:22
- "Had to Go, Never Leave" - 2:38
- "Mecca" - 3:50
I Self Devine - LA State Of Mind (Free Mixtape) by rhymesayers