quarta-feira, 3 de abril de 2013
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Porco na Cena #21 - Lollapalooza

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Confesso que fiquei na dúvida se deveria escrever este relato de como foi o Lollapalooza Brasil 2013 ou não. São tantas publicações por ai relatando tudo o que ocorreu, todos, quem foi e quem não foi já deve estar cansado de saber da história das filas, lamas, furtos, de shows memoráveis como o do QOTSA ou dos completamente esquecíveis, mas não importa, deixarei registrado minhas impressões sobre. 

O já tradicional Lollapalooza estreou por aqui apenas em 2012 como um festival de dois dias. Com um lineup um tanto quanto mediano, chamou a atenção das massas com a confirmação do Foo Fighters como grande banda do evento, esgotou um dia, teve um público razoável no segundo, o suficiente para confirmar uma segunda edição por aqui, e mais forte, com duração de três dias (assim como a matriz de Chicago) e espaço para atrações mais expressivas distribuídas por todo seu lineup. 


Sexta Feira 29/03

Com um clima tipicamente paulistano pra mostrar como é a vida por aqui pra inúmera quantidade de pessoas de fora do Estado que vieram para cá pelo festival, o dia começou cinzento e com garoa, e o Jockey nos brindou com lama, muita lama. O primeiro dia de Lollapalooza em termos de lineup fora de longe o mais fraco, fui mais pelo evento em si,  o que na verdade também me agrada quando acontece dessa forma, sem nada que seja um grande "must see" você pode aproveitar melhor a experiência do festival, encontrar amigos e tudo isso pode ser até mais legal do que ver um grande show.

Logo após passar pelo processo de fila e revista (tudo muito tranquilo), ao entrar no Jockey deu pra ver que fora mantida exatamente a mesma disposição de palcos e tendas do ano passado (sim eu poderia saber disso a mais tempo vendo o mapa no site, mas existe o fator preguiça). Fui direto ao palco Butantã para ver o Of Monsters and Men que estava prestes à começar.

Of Monsters and Men



Confesso que de cara, só fui assistir pela falta de algo melhor tocando na mesma hora (e pela curiosidade de ver como são os Islandeses. Onde vivem? O que comem?) mas o saldo foi bem positivo, um Arcade Fire para crianças, mais fofinho e acessível, é isso que o Of Monsters and Men é. Com apenas um álbum muito bem recebido no mundo inteiro, o coletivo islandês faz um show animado, cheio de músicas que soam melhor ao vivo do que em estúdio. É tudo muito funcional pra um festival, melodias grudentas e repetitivas, letras que contribuem para sing-alongs, inúmeros "lalalala" e "hey hey hey", além da simpatia de seus integrantes, o show já começou ganho, tanto para banda quanto para o público que se corresponderam na medida e ambos saíram satisfeitos nesse comecinho de festival. 

Logo depois foi a hora de descobrir qual seria o maior problema do dia, a lama. Ao migrar de um lado para o outro do Jockey não demorou para ter a deliciosa sensação de sentir seus pés afundando naquela linda mistura de esterco e lama que só o Jockey pode proporcionar com tanto carinho. A parte ruim não é nem sujar seu tênis, e sim passar o resto do dia com os pés encharcados, mas tudo bem, não vejo motivo pra tanta revolta nesse ponto como fizeram questão de falar por aí. Todo mundo quer ir para o Glastonbury ou Leeds, e a coisa é bem mais feia por lá, faz parte. Quem tá na chuva é pra se molhar não é mesmo?

The Temper Trap

Vi de longe, comendo hot pocket (que pelo preço deveria ser um hambúrguer gourmet), só me lembro de ser bem ruim, e de o vocalista ser uma mistura de japonês com latino ostentando um bigodinho cafajeste, fazendo a todo momento caras e bocas. 

The Crystal Castles



A dúvida de show do dia, Cake ou Crystal Castles? De um lado uma banda veterana mas que perdeu muito da sua relevância, do outro uma que tem mais hype do que qualidade. Resolvi ir pela segunda opção, ainda mais que as apresentações do Crystal Castles tem fama de serem bem enérgicas. Eis um show que provavelmente poderia ser melhor se não fosse as condições do momento, assisti o show com os pés soterrados na lama, pular seria tarefa impossível, além do Palco Alternativo que durante todos os dias sofreria com problemas de som. Alice Glass no palco age como uma criança que faz merda o tempo todo, enquanto os adultos que supervisionam aquilo incentivam com palmas e gritos, ela bota a camisa na cabeça e o público vai ao delírio. Mas ainda pode ser divertido ver todo esse lado sem noção, as inúmeras vezes que ela se joga no meio da galera ou pirando de forma introspectiva como se estivesse em um mundo alternativo. Um show ok, mas que poderia ser melhor. 

The Flaming Lips


O grande show do dia, ao menos o mais esperado por mim. E também o que eu considero a maior cagada da organização do Lolla, o que já havia acontecido no ano passado se repetiu neste ano. Montar um lineup vai muito além de escolher 50 bandas aleatórias que podem vender ingressos. A disposição das bandas e dos horários e palcos contam muito. No ano passado foi extremamente desagradável assistir o TV On The Radio que faz um puta show em meio a uma infinidade de fãs do Foo Fighters parados, com cara de merda reclamando e vaiando. Esse ano colocar o Flaming Lips no mesmo palco do The Killers foi a mesma coisa, os curadores deveriam entender que quem ta lá pra ver a banda coxinha do dia, não quer, não tem interesse, sequer quer tentar entender uma banda "cabeçuda", mais experimental, sem melodias de fáceis de digestão. O resultado? Pessoas realmente interessadas no show sendo obrigadas a ouvir reclamações o tempo todo, pessoas que não gostam ou conhecem a banda sendo obrigados a passar por mais de 1 hora de tortura sonora (imagino que deva soar assim, e nem os culpo), e isso estraga em muito a qualidade da apresentação. O Flaming Lips ousou, lembro bem da apresentação de 2005 com várias canções felizes, covers de Queen e Black Sabbath, bichinhos, raios lasers, chuva de papel, bolha Coyne, enfim, um show divertido pra qualquer um. Mudaram totalmente, foram para uma bad trip obscura, um show psicodélico ao extremo com as pesadas canções do novo álbum "The Terror" dando o tom. Ao mesmo tempo em que um Wayne Coyne era extremamente gentil e amável, dizendo diversas vezes que amava o público que em sua maioria não dava a minima. Vale lembrar momentos memoráveis como quando Coyne começa a dizer que São Paulo era  único lugar do mundo onde ele via aviões pousando próximo à arena, e imagina como seria se o avião caísse ali e todo mundo morresse? Fazendo várias piadas sobre aviões caindo e morte, Wayne ainda parou por um momento pedindo para que o publico fosse iluminado e todos dessem tchau para o avião que sobrevoava o Jockey, me pergunto como os passageiros daquele voo reagiram. Fechando a apresentação com um combo de três faixas do clássico Yoshimi, confesso que na hora da faixa título do álbum e da lindíssima versão acústica de Do You Realize? meus olhos marejaram. De longe um dos shows mais bonitos dos três dias de festival. 

Deadmau5


Depois de uma densa viagem transcendental juntamente do Flaming Lips, era hora de extravasar com o cara que carrega a alcunha de "DJ mais bem pago da atualidade". Deadmau5 já estava em seu posto quando cheguei próximo ao palco Butantã, palco que ele era responsável por fechar a noite. Provavelmente foi o palco mais bem produzido do festival inteiro, com enormes e brilhantes telões de led, assim como uma plataforma ocupada pelo próprio ratão toda envolta em mais leds que acompanhavam as imagens do telão. Deadmau5 apesar de fazer música dançante, completamente comercial, faz bem feito, ao contrário de boa parte dos DJs, não segura o público com "drops" de batidas aceleradas ou wobble bass, tudo é muito contido e bem cuidado, sem apelar. Tudo já estava bem legal, mas o show foi incendiado quando ele soltou o começo de um remix de Killing in the Name do Rage Against The Machine, pra deixar a música rolar na integra logo após, esses 5 minutos valeram a apresentação inteira. 

The Killers

Não gosto de Killers, nunca gostei, sempre foi a banda que eu tive maior antipatia dos gigantes do "indie" dos anos 2000, porém, assumo que em termos de show, o trampo é bem feito, a banda se entrega e faz um show que deve deixar qualquer fã satisfeito, músicas de arena feitas para cantar em coro, pula pula, explosões, Brandon Flowers exalando simpatia (e breguice) com frases prontas em português, ao menos é dedicado e demonstra se importar com o público, um show muito melhor do que o Arctic Monkeys apresentou no ano anterior. 

Knife Party


Ocupando o posto do Skrillex neste ano, o Knife Party vem das sobras do Pendulum, banda australiana que misturava o drum'n'bass com o rock à grosso modo. Já no Knife Party temos um duo que produz um dubstep pesado. Peso inclusive define a apresentação dos caras. Graves poderosos, batidas aceleradas, dub, de tudo um pouco agitava a tenda eletrônica que estava com cerca de metade de sua lotação, mas quem estava lá dançava de forma desvairada, chegando até a ser cômico o quanto alguns se contorciam em meio aquela chuva de graves. Foi pra lavar a alma, e o corpo de lama, e ao mesmo tempo que fechava a sexta-feira com chave de ouro, te deixava mais quebrado para o corrido sábado que viria a seguir. 

Sábado 30/03

Acordar e sentir as dores e o cansaço de um dia inteiro de festival se manifestando, lavar o seu tênis na medida do possível para ao menos se tornar utilizável mais uma vez, e correr pra mais um dia de Lollapalooza, aquele que pra mim, seria o melhor dos três.

Tomahawk


Cheguei no Jockey por volta das 15h, abortei o Toro Y Moi e fui direto ver o meu idolo maior, o homem das 1000 vozes, das inumeras bandas e do carisma incomparável, Mr. Mike Patton. Tomahawk é formado por Patton, John Stannier (Battles, Helmet), Trevor Dunn (Mr. Bungle, Fantomas) e Kevin Rutmanis (Melvins). Uma verdadeira super banda das vertentes mais experimentais e insanas do rock. O Tomahawk soa como um rock alternativo bagunçado e experimental, mas ainda assim bem digerível, nada perto de como um Fantomas pode ser assustador para mentes saudáveis e comuns. Ainda assim o Tomahawk não é nada convidativo para quem fora naquele dia para ver bandas como Two Door Cinema Club ou Franz Ferdinand, mas uma quantidade razoável de fãs do Patton estavam lá para ver suas loucuras no palco. Com um curto setlist de 11 músicas, sendo uma delas um excelente cover de Bad Brains, sobrou espaço para momentos de descontração com Patton falando português, cantando "Porra, Caralho" que já se tornou um hino em todas suas apresentações no Brasil, e chamar o público de cachaceiro. Como sempre Patton não decepciona e fez um dos melhores shows do festival. 

Franz Ferdinand

Não vi muito, mesmo porque essa foi a quarta vez que eu via Franz Ferdinand ao vivo, mas como sempre, foram o Franz Ferdinand. Um show animado, pra um público festivo e feliz que vai pular e cantar junto da seleção de hits que a banda já conseguiu emplacar. Preferi pegar meu lugar próximo a grade pro show que viria à seguir.

Queens Of The Stone Age


Enquanto o Franz Ferdinand animava o palco Butantã, aproveitei pra garantir um bom lugar para o show do QOTSA, encontrei alguns amigos no caminho e logo nos enfiamos próximo à primeira grade. Pontualmente Josh Homme e sua trupe se posicionaram no palco e logo despejaram a sequência de The Lost Art of Keeping a Secret, No One Knows e First It Giveth, o show estava ganho. Elogios quanto ao QOTSA já estão cansativos, foram os verdadeiros headliners do dia. O que eu acho verdadeiramente incrível em relação a eles é a capacidade de unir públicos diferentes, mesmo com um Stoner que ao vivo fica ainda mais pesado, eles tinham lá no seu público desde o fã do rock experimental do Tomahawk ao povo dançante do Two Door Cinema Club, e todos na mesma sintonia pulando, cantando, berrando ou se batendo em moshpits que se formavam ao longo da pista. Como um rolo compressor, soltaram 14 faixas, para minha surpresa a excelente Better Living Through Chemistry estava no meio, e ainda teve espaço para o novo single tocado pela primeira vez "My God Is The Sun" que ficou bem bom. Ao fim do show, inteiramente suado, a sensação só não era de completa satisfação pelo gostinho que fica de quero mais, está na hora do QOTSA voltar pra cá para em show solo. Mas enfim, era hora de correr.

A Perfect Circle


Para o bem ou para o mal, com o show do QOTSA terminando 15 minutos antes do previsto (iria rolar uma ação promocional da Heineken naquele palco), deu tempo de correr para ver o A Perfect Circle que integrava o grupo das seletas bandas que eu realmente considerava obrigatórias nesse Lollapaloza. Primeiro que só pelas lendas que estariam ali no palco já valia apena ao menos o contato visual, nomes como BIlly Howerdel, James Iha, e claro, Maynard James Keenan pra mim já eram chamativo o suficiente, isso claro se eu não adorasse o som do A Perfect Circle. O show cresceu gradativamente, da abertura lenta com Annihilation e Imagine chegando ao pesado final que veio com Rose, The Package, até chegar em The Outsider. Um show relativamente vazio para os padrões do festival, mas que fizeram Billy Howerdel reverenciar o público ao seu fim, não eram muitos, mas eram fãs, de coração, que cantaram todas do início ao fim em coro, emotivamente, um show que muitos ali demorarão pra esquecer, fosse pelo sentimento que as músicas ganham ao vivo, pelas belas projeções no palco, pela chance única de ver aquelas lendas todas juntas.

The Black Keys


Confesso que depois de ter visto as loucuras do Tomahawk, o rolo compressor do Queens, e o viajante show do A Perfect Circle meu dia já estava completo, e mesmo achando Black Keys uma banda bacana, não me animava muito a ideia de me enfiar no meio da muvuca pra assistir o show da grande banda indie do momento. Assisti de longe, tranquilamente, e pelo jeito foi a escolha correta (quer dizer, acredito que a melhor mesmo teria sido ir pular no Steve Aoki que vi o finalzinho e parecia estar excelente, mas fica pra uma próxima). Vi mais reclamações do que elogios referentes ao show do Black Keys, som ruim e baixo, público coxinha que só conhecia três músicas, um mar de referências negativas, a maioria não parecia ser culpa do Black Keys que são uma boa banda, mas sofrem do mal de ser a banda do momento, não tendo força pra ser headliner, não tendo um público verdadeiramente fiel e que conheça a obra da banda pra acompanhar, mas tudo bem, no aguardo do duo voltando pra cá em um show fechado, com uma boa estrutura e um público que esteja lá não só pelo hype. 

Domingo 31/03

Finalmente o ultimo dia, parte de mim estava feliz, o corpo depois de dois dias de festival começa a pedir arrego, e saber que você vai encarar mais um dia inteiro de loucura pode dar uma preguiça enorme, mas também é meio triste voltar para a realidade do cotidiano comum que era o que esperava a todos na segunda-feira, mas tudo bem, voltamos ao comportamento padrão, acordar, lavar o tênis, e ir para o metro. 

Foals


Para mim, a maior decepção do festival. Não que eu seja um grande fã e conhecedor da obra da banda, mas sempre achei eles dignos de alguns méritos, responsáveis por fazer um indie rock com boas referências retiradas do post-rock e math rock, dando ao gênero clichê um respiro de criatividade. O que eu vi no palco foi um show simplesmente entediante, não sei se foi o setlist que foi mal escolhido, mas foi extremamente chato, incluindo os momentos de noise que eram um tanto quanto mequetrefe. 

Puscifer


Não esperei o Foals chegar ao fim e corri pegar um bom lugar para o Puscifer, mais uma vez veria um dos caras que eu mais admirava ali, Maynard. Primeira vez de Maynard no Brasil, o mentor do lendário Tool, ainda não fora a vez de sua banda principal aparecer por aqui, mas o lindo show do A Perfect Circle na noite anterior e o Puscifer naquela tarde já davam um belo aperitivo do que podemos esperar se um dia vierem para cá.  Puscifer traz toda a estranheza que Maynard carrega consigo, a banda tocando toda alinhada na frente do palco, uma mesa com vinho, cadeiras e taças. Maynard trajando um sobretudo de couro e chapéu de cowboy sob o forte calor que fazia no domingo, andava de um lado pro outro cantando as músicas de seu projeto solo enquanto servia vinho para os outros integrantes da banda e alguns convidados do backstage. Eis que um dos convidados surgem na frente do palco e se sentam, esse era Eddie Vedder para a loucura dos fãs de Pearl Jam que não entendiam nada da estranha apresentação do Puscifer. Apesar de 90% ali se importar mais com Vedder sentado do que com a banda, o momento valeu apena para os coxinhas respeitarem o Puscifer, acredito que se não fosse por isso teria sido uma linda apresentação, porém, vaiada e incompreendida pela grande maioria. E esse também foi um dos shows que entraram para a conta de escolha errada de palco, cairia muito melhor no outro ou na tenda eletrônica. 

The Hives


Talvez o melhor show "default" do festival. O público específico do Hives não deveria ser dos maiores, na verdade naquele começo de noite a multidão aglomerada estava na ansiosa espera por Pearl Jam, então o Hives serviria para aquecer um pouco, acredito que ninguém esperava um show tão quente. Um show quase insano de tão cheio de energia, Pelle é um maluco que corre, grita, se joga, faz de tudo no palco e não te dá um segundo pra respirar, seja em hits como Walk Idiot Walk ou em faixas menos conhecidas, pancadas do melhor do punk garageiro sueco. 

Planet Hemp

Nacional mas com peso de banda gringa, o Planet Hemp veio como co-headliner do dia mais cheio do evento mostrando o porque de terem sido uma das bandas mais importantes do rock nacional dos anos 90, e que seu raprockandrollpsicodeliahardcoreeragga está longe de soar datado, pelo contrário, ainda soa extremamente original e atual. O show é enérgico do começo ao fim, D2 e BNegão comandam banda e público e botam o mar de gente pra pular sem parar um segundo, porém, vou interromper a resenha abruptamente da mesma maneira em que o festival foi interrompido pra mim tendo sido furtado durante um arrastão e passando o resto da noite em uma base móvel da polícia fazendo Boletim de Ocorrência :(

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