Gênero: Country Alternativo
País: Estados Unidos
Ano: 2000
Comentário: Não existe coisa muito mais piegas que foto deitado com um cigarro. Portanto, Heartbreaker já parece um disco "coxinha" (pra citar meus amigos paulistanos). O próprio Ryan Adams tem uma estranha capacidade de parecer um Billy Joel mais babaca na capa de seus álbuns. O que é uma grande pena, tendo em vista a qualidade de seu trabalho.
Heartbreaker é um disco
pesado e atormentado. Ryan vinha com seu primeiro disco da sua carreira solo,
no famigerado gênero que é o country alternativo. Vindo de decepções amorosas e
problemas com a vida em geral - pra não ficar me enumerando, já que não eram
poucos - o jovem rapaz tinha tudo pra estragar sua própria música. O que saiu
das sessões de gravação, porém, foi tocante, angustiante e lindamente melodioso.
A primeira música, To be young (is to be sad is to be high) é
um clássico dos filmes de besteirol universitário. Uma pena, pois é um dos
destaques do disco. A voz marcante de Adams entra junto de uma instrumentação
country envergada, trabalhada fora das convenções. A batida e o ritmo
relativamente alegres se contrapõe a letra melancólica.
Logo depois vem a
dobradinha My winding wheel e Amy. Duas músicas que mostram muito do
melhor do disco. Dois pedidos apaixonados por compaixão. Ryan Adams não é o
Heartbreaker, ele é a pessoa de coração quebrado. Amy é, em especial, uma
composição das mais bonitas que já ouvi. As vozes sobrepostas de Adams abrem
espaço para uma bela soma de violão e violinos e a frase que mais bem definem
tudo o que é construído por Adams: "Is
God playing evil tricks on me? Oh, I love you Amy, do you still love me?" tudo é mínimo e ainda assim desolador.
O disco segue com mais duas
faixas que fecham a primeira metade com chave de ouro: Oh my sweet Carolina e Bartering
Lines são ambas delicadas mas potentes. Bartering Lines, em especial, é
talvez minha música favorita aqui, junto de Why
do they leave? que tem um ótimo solo de gaita. Quase finalizando a viagem,
temos In my time of need outra
pequena balada mais do que clássica. Adams faz um country desconstruído mas
ainda assim claramente country. É a subversão necessária para um gênero se
manter vivo ao longo dos anos.
Heartbreaker não é um disco
para todos os momentos. Muitas vezes ele pode soar depressivo demais ou auto
depreciativo. Mas nos momentos em que faz sentido, em que toca exatamente o
lugar em que foi feito pra chegar, é simplesmente arrasador. Suas composições
são belíssimas, apesar de contidas, e as letras de Adams são de uma extrema
sensibilidade. Não é seu único disco bom, mas é talvez seu melhor.
No fim das contas, é a
estréia solo de um artista a ser respeitado, um livro para ser lido apesar da
capa. É muitas vezes dessas exóticas combinações que se faz a melhor das
experiências. Afinal, para um disco de country alternativo com tendências
depressivas impressionar tanto um carioca feliz, a coisa tem de ser realmente
boa.
Tracklist:
1. "(Argument with David Rawlings Concerning Morrissey)"
2. To be young (is to be sad, is to be high)
3. My Winding Wheel
4. AMY
5. Oh my sweet carolina
6. Bartering Lines
7. Call Me On Your Way Back Home
8. Damn, Sam (I love a woman that rains)
9. Come pick me up
10. To be the one
11. Why do they leave
12. Shakedown on 9th street
13. Don't ask for the water
14. In my time of need
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