Gênero: Stone rock / rock
País: Brasil
Ano: 2014
Comentário: Artisticamente, a sonhada maturidade musical, por vezes, é um trabalho árduo de anos de trabalho onde anos de vivência, erros e acertos, resultam por fim em algo satisfatório em sua plenitude. Porém, há aqueles que subvertem a lógica natural e de forma surpreendente já nascem prontos, capazes de produzir algo digno de nota, altamente agradável logo em sua estréia. Nesta rara seara, um belo exemplar foi a estreia de Priscila Novaes Leone, popularmente conhecia como Pitty.
Com carreira solo iniciada em 2003, após seis anos de dedicação
à banda Inkoma, Pitty estreiou via Admirável
chip novo, disco largamente elogiado pela crítica graças a proposta
inovadora para época ao conciliar letras muito bem trabalhadas (muitas em ode a
escritores clássicos como Thomas Hobbes e Aldous
Huxley) com a sonoridade rock e produção precisa de Rafael Ramos.
Com o súbito sucesso,
principalmente entre o público adolescente que a adotou como sua porta voz, e
seguindo a máxima “em time que está ganhando não se mexe” a cantora baiana manteve
a sua lógica de trabalho nos discos subsequentes (Anacrônico, de 2005 e Chiaroscuro, de 2009).
Já em 2011 criou o projeto
Agridoce junto à Martin Mendonça, ex-Cascadura e guitarrista da banda de apoio
da cantora, onde exploraram texturas musicais adocicadas, próximas ao folk,
anos luz do seu tradicional rock visceral. Com o sucesso da iniciativa, a dupla
excursionou por dois anos, rendendo inclusive uma apresentação no Lollapalooza
2013.
Após hiato de 5 anos de sua
fase solo, Pitty volta aos holofotes com Setevidas.
Marcado pelo turbilhão de experiências ruins recentes como a morte de Peu,
guitarrista de sua primeira fase, o processo trabalhista movido por Joe,
ex-baixista, e, principalmente, a internação na UTI devido a uma disfunção
hormonal, a cantora promove neste quarto disco o retorno de elementos característicos
de sua carreira, mas com novos olhares.
Produzido por Rafael Ramos,
responsável por produzir todos os discos dela, e mixado nos EUA por Tim Palmer
(responsável por inúmeros trabalhos de qualidade ao lado de David Bowie, Pearl
Jam entre outros) o disco traz musicalmente de volta a influência do Queens of
the stone Age de outrora como se percebe na faixa de abertura “Pouco”, na ótima
“Deixa ela entrar”, e em “Pequena Morte”. As composições com o habitual tom de
crítica social ressurgem em “Boca aberta” e em “A massa”. A pesada faixa título, primeiro single deste
disco, detém o mérito de ter o refrão mais pegajoso de 2014 (“só nos últimos
cinco meses eu já morri umas quatro vezes / ainda me restam três vidas para
gastar).
Na ala das novidades, muitas
delas oriundas da experiência adquirida em Agridoce, surgem na inicialmente
delicada “Lado de lá”, canção conduzida ao piano que cresce absurdamente nos
seus minutos finais num arranjo explosivo, muito semelhante aos britânicos do
Muse. Já em “Serpente”, novamente o tom adocicado e predominantemente acústico
dão o tom para esta canção otimista ante a vida, tema este que permeia todo o álbum.
Elementos percussivos se destacam em na cadenciada “Um leão”.
Por fim, percebesse que em Setevidas Pitty conseguiu azeitar muito
bem todas as dificuldades e prazeres proporcionadas nestes últimos anos de
labuta e alcança agora o estado de excelência, resultando no seu melhor trabalho
nestes 10 anos de bons serviços à boa música.
1."Pouco"
2."Deixa Ela Entrar"
3."Pequena Morte"
4."Um Leão"
5."Lado de Lá"
6."Olho Calmo"
7."Boca Aberta"
8."A Massa"
9."Setevidas"
10."Serpente"
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