Gênero: Folk / Mariachi / Tango / Música Tradicional Mexicana
País: Estador Unidos
Ano: 2002
Comentário: Dia desses finalmente tomei vergonha na cara e vi a cinebiografia da Frida Kahlo, uma das maiores pintoras mexicanas, que apresenta em seus trabalhos uma estética totalmente inovadora, sofrida, decidida, autêntica, transgressora e delicada. Não tenho eu palavras para descrever o quanto a obra dela me toca, do quanto eu vejo e não tento compreender o que está ali, porque é um erro tentar ler um artista dessa maneira. Mesmo que por mais que me falem que não se deve julgar a tela pela história de vida daquela assinatura é inegável que com a Frida essa regra se torna exceção. Ela se pintou em seus quadros, criou uma vida com aquelas telas – criou a vida dela. E novamente repito, acho que tudo que eu falar aqui sobre os quadros dela vai ser pouco, eu nunca vou conseguir descrever o quanto sou realmente grato por um dia ter encontrado com o trabalho dela.
Enfim,
quadros a parte, vamos ao filme. A atuação de Salma Hayek é
impecável como Frida e o que faz moldura para a maravilhosa atuação
dela, além de seu fascínio pelo trabalho da Kahlo, é a trilha
sonora. Composta basicamente por Elliot Gondenthal, compositor
norte-americano que já trabalhara em filmes como “Entrevista com o
Vampiro” (por sinal as trilhas sonoras dos filmes são bastante
diferentes), a trilha de Frida é bastante tradicional, sem contar
com pop/rock tipicamente presentes nas trilhas de Holywood, já que o
filme é ambientado na faixa de tempo entre as décadas de 20-50 as
músicas também podem ser ambientadas entre essas décadas. Quase
todas cantadas em espanhol, menos a última faixa que consta com os
vocais de Caetano Veloso cantando em inglês.
Meu
intuito ao apresentar essa resenha aqui é dar continuidade ao que
venho postando aqui no blog, algo que converse com a música
tradicional/folclórica; de raiz, de cada nicho cultural. Queria
mesmo apresentar algo que conservasse o espírito das veias abertas
da América Latina, que fosse relevante e que tivesse deixado uma
marca na história das Américas. Frida foi uma dessas marcas – e
toda essa trilha sonora é o background, e também porque não
artista principal, para que o sangue latino continue a circular por
entre as veias desse continente.
Pois
bem, as faixas instrumentais recorrem bastante aos típicos violões
mexicanos e suas nuances. “The Floating Bed” e “Self-Portrait
with Hair Down” são duas que podemos exemplificar: a primeira
caminha pelo lado mais mariachi e empolgante da trilha, com cordas
rápidas e agitadas, a segunda tem certo flerte com o tango, faixa
importante para o filme, no momento em que Frida se separa de Diego,
corta seus cabelos e traveste-se de homem, fazendo tudo isso para
desagradá-lo, a faixa é bem densa, mas apresenta também nuances,
mesmo tendo somente pouco mais de um minuto.
Aqui
“Portrait of Lupe” merece algum destaque tanto pela sua
importância no filme quanto para a trilha. Lupe fora a primeira
esposa de Diego e diversas vezes ria-se da cara de Frida por ela ter
casado com um homem que nunca seria verdadeiramente dela. Na faixa
vemos as nuances das relações das duas, a calmaria inicial ao
conhecerem, a agressividade de Lupe no casamento de Frida e Diego e a
cumplicidade de ambas depois de algum tempo: consigo dentro da canção
enxergar todos esses caminhos percorridos por ambas.
Das
faixas em que se encontram a presença de vocais, muitos deles muito
bem cantados pela Lila Downs e pela Chavelas Vargas destacarei algumas
faixas. As duas versões de “La Llorona” são fantásticas, a
interpretada pela Chavela Vargas é fodidamente (desculpem pelo
palavrão) doída. A voz, a sonoridade, a letra e a cena em que ela é
inserida são o palco ideal para a canção, sem mais (aliás a Chavelas deve aparecer por aqui logo menos ou logo mais). A por Lila
Downs é entoada como um verdadeiro canto mariachi, mas em potência
vocal ela não fica por trás, mas a interpretação e arranjo da Chavelas é assustadoramente emocionante, gritada, visceral – e é
esse exagero e essa dualidade das duas faixas que me encantam na
música latina.
Essa
visceralidade latina também encontramos em “Paloma Negra”,
merece ser ouvida, o urro da Chavelas nessa faixa é uma das coisas
mais belas desse álbum, vale o play! A faixa que a própria Salma
Hayek interpreta “La Bruja” também caminha pelos lados do
visceral mexicano/latino, cordas rápidas e vocal tão rápido
quanto, nessa faixa vemos toda a entrega de Salma ao papel de Frida,
mais uma que vale o play.
A
faixa que encerra o álbum “Burn it Blue” é um dueto de Caetano
Veloso e Lila Downs, dueto esse presente nos créditos finais do
filme e a única faixa que consta com um vocal em inglês, como já
dito. A Lila aqui mostra realmente seu potencial que se entrelaça
muito bem com a calmaria que o Caetano apresenta na música – é
realmente uma música muito boa, rendendo até apresentações em
premiações, tendo em vista que essa trilha sonora fora premiada com
um Oscar.
Pois
bem, acho que o álbum em si resume bem o tom do filme da Frida, que
as vezes escorrega, mas em sua trilha é magistral. Ponto para o
Elliot Gondenthal, que conseguiu trazer o ar de latinidade necessário
para o meio estadunidense que caricatura negativamente uma cultura
tão rica quanto a da América Latina.
[Spotify]
Tracklist:
01. Benediction and Dream
02.
The Floating Bed
03.
El Conejo
04.
Paloma Negra
05.
Self-Portrait With Hair Down
06.
Alcoba Azul
07.
Carabina 30/30
08.
Solo Tú
09.
El Gusto - Performed by Trio Huasteco Caimanes de Tamuin
10.
The Journey
11.
El Antifaz
12.
The Suicide of Dorothy Hale
13.
La Calavera
14.
La Bruja
15.
Portrait of Lupe
16.
La Llorona
17.
Estrella Oscura
18.
Still Life
19.
Viva la Vida
20.
The Departure
21.
Coyoacán and Variations
22.
La Llorona
23.
Burning Bed
24.
Burn It Blue
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