Não posso dizer que ouvi muitos álbuns lançados esse ano, ouvi, no máximo, alguns, assim, meio sem saber o quanto ouviu e porque ouviu. Só ouvi. E alguns desses álbuns vem preencher esse top. Ele foi totalmente moldado no meu juízo de valor (ou seja: acho tudo muito bom - e isso não necessariamente quer dizer, que você, que está lendo, ache) e também que eles sejam necessariamente os melhores quinze álbuns do ano: porém, para mim foram. Resumindo: minha lista é totalmente subjetiva, alguns ouvi mais, outro menos, uns ouvi assim que lançaram, outros ouvi meses depois, uma semana atrás. Não importa. Estão aqui "Os Melhores Discos de 2014 por Lucas" (eu queria ter colocado um título legal e sem sentido, mas antes de qualquer coisa devemos obedecer um padrão, verdade)
15 – Rolland Hazzard - Young Girls
Blues, Garage Rock, Indie Rock
O que me faz gostar muito desse álbum é o tom descompromissado da banda. É um som típico do Texas, um garage rock muito bem-feito e sem grandes surpresas. Só por isso o álbum, para mim, se sustenta. Mas se isso não bastar para quem está lendo essa pequena resenha, tenha em mente a influência blues e indie da banda e que isso também é exprimido no álbum. Pronto, para mim é um registro muito bom, embora esperado, confesso, de toda maneira mostra o bom e velho feijão com arroz ainda tem sua validade.
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14 - Phantom Radio – Mark Lanegan Band
Grunge, Blues Rock, Alternative
Não tenho como negar que a sonoridade do álbum me agrada – em parte pelo vocal soturno do Mark, vale acrescentar. “Judgement Time” para mim poderia ser a síntese do álbum, toda violão e voz, em uma semi-melancolia e soturnidade que são a marca poética do Mark, assim também como “I Am The Wolf”. Se comparado ao ótimo “Blues Funeral”, “Phantom Radio” fica devendo um pouco nas marcas e estéticas do Mark, que ainda estão ali, então por isso, vale o registro.
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13- Criolo - Convoque Seu Buda
Hip Hop, Alternative, Rap Nacional
Antes que alguém me mate, quero explicar que, assim como o PH, eu não acompanhei essa crucificação que fizeram em torno do Criolo e etc e tal: só ouvi o álbum. E, oi, ele é uma nítida continuação de “Nó Na Orelha”, embora siga por caminhos já trilhados não decepciona, não a mim. Ainda acho as letras com uma enorme carga poética (e não ligo se ele não fala ~claramente~ de periferia ok, se repararem bem, ela tá ali sim), uma ótima produção além de ser um dos meus artistas nacionais preferidos. Larguem de ser chatos e de julgar o cara sem nem ao menos ouvirem o que ele tem a dizer, mesmo com toda a pretensão que ele, supostamente, exala.
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12- Crosses – Crosses
Eletronic Rock, Dark Wave
Dos mil e um projetos do Chino, “Crosses” é um dos que mais me agrada. O ponto importante aqui, para mim, é poder ouvir um vocal que curto de uma maneira que curto ainda mais: exalando melancolia. Ok, existe todo um diálogo entre o vocal e as bases (por falta de nome melhor vou usar base mesmo) eletrônicas e isso também para mim é um grande ponto a ser explorado, vide a faixa de abertura, “This is a Trick”, que exemplifica muito bem o porque da existência desse projeto. Destaque para “The Holy Ghost”e “Nineteen Eighty Seven”.
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11- Kindred Fever - Woman Are Witches
Garage Rock, Punk, Indie
O álbum me conquistou inicialmente pelo garage rock das faixas de abertura. Destaque para a faixa-título e para sua seguinte "Ready To Die". O duo também mostra bastante versatilidade no álbum para apresentar faixas de um indie com um background country. Basicamente é um bom registro para os fãs do gênero - além de carregar um certo descompromisso do punk em algumas canções.
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10- Alice Caymmi - Rainha dos Raios
Alternative, Eletronic, MPB
Já resenhei o debut da Alice aqui e embora o adore, “Rainha dos Raios” tem um espaço especial nesse top por poder perceber que, finalmente, a Alice achou um caminho próprio para trilhar. Os covers presentes no álbum são interpretações únicas – destaque especial para “Homem”, do Caetano Veloso e “Princesa” do MC Marcinho, que sob o prisma de Alice transformam-se em outras canções. Ah, isso sem falar da bela capa do álbum, que para mim exemplificam a estética e a visão que a Alice tem para com a sua música.
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09- Reptile Youth - Rivers That Run For A Sea That Is Gone
Elektro, Rock, Electropunk
Esse álbum fora descaradamente roubado por mim da lista da Ariel e ocupa até a mesma posição. Meus motivos para fazer isso: primeiro; a capa é uma fotografia do Roger Ballen e eu não poderia deixar de fora um álbum com uma capa de um fotógrafo que admiro por demais. Segundo; o álbum é incrível, a bateria é rápida, o vocal passa aquela sensação de rock star que aos poucos estamos perdendo no rock em geral, a aura do registro oscila do triste, alegre e eufórico em poucas faixas. E como supliquei para a Ariel não tirar da lista dela e ele teve que sair ainda aproveito para deixar aqui registrada uma homenagem a ela, até porque, verdadeiramente acredito que ele merecia muito aparecer na lista dela.
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08- Cadu Tenório e Márcio Bulk - Banquete
Ambient, Experimental, Indie
Experimentalismo. Resume muito bem esse trabalho do Tenório e do Bulk. O registro conta com participações incríveis em suas quatro faixas. Destaco aqui a belíssima capa e o começo de “Café Expresso”, cortado pelos experimentalismos realizados, pelo lo-fi do vocal, que conversa harmoniosamente com outros sons, que vem para completá-lo. A terceira faixa, “Em Transe", além de conter uma letra bem poética, é uma faixa que deve ser ouvida com atenção – a junção perfeita de vocal e a estranheza dos sons por cima da mesma que não atrapalham em nada, só vem reforçar a sonoridade experimental que o registro propaga.
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07- Timber Timbre - Hot Dreams
Blues, Folk, Folk Contemporâneo
Um instrumental bem dark e leveza nos teclados, é a minha primeira impressão.“Run for Me”vem juntar essa leveza dos teclados com o peso da sempre incrível e soturna voz do Taylor Kirk, que para alguns pode soar monótona, mas para mim, que adoro uma melancolia em forma vocal é um prato cheio. O álbum realmente não tem pontos altos, mas se faz, de fato, bem pontual em sua sonoridade: um flerte com sons vindos do folk (como exemplo posso citar "The New Tomorrow", que lembra bastante a faixa "Bad Ritual", uma das melhores do álbum anterior) e uma pegada bem voltada para o blues. Não tinha como eu não incluir aqui, dada as minhas predileções musicais desse ano.
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06- Lazaretto - Jack White
Garage Rock, Blues, Rock, Contry Folk
Sou uma espécie de fanboy do Jack White. Desde que o "The White Stripes" teve seu fim esperava os trabalhos dele."Blunderbuss" para mim é um bom álbum, porém não tem o mesmo peso de "Lazaretto". Coloco esse peso basicamente em poder ver todas as influências do Jack no álbum: seu lado rock garage, o contry ("Temporary Ground" aqui como exemplo), o folk muito bem unidos nesse registro magistral. Um dos melhores trabalhos de imersão na música de raiz americana: um dos melhores trabalhos dele, com toda certeza.
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05- Lana Del Rey – Ultraviolence
Pop, Blues, Dream-Pop
Tenho uma estranha sensação de que esse álbum da Lana Del Rey poderia resumir, em alguns sentidos, a minha vida. Sou um fã confesso da melancolia musical desde que Leonard Cohen proferiu um"Hallelujah", logo, não poderia ser indiferente a estética e sonoridade da Lana nesse registro. Ela conseguiu, finalmente, se estabelecer musicalmente, encontrando um caminho viável para o seu dream-pop de sad girl my pussy tastes like a pepsi cola. A calmaria da voz dela é um dos pontos altos do álbum - e em algumas faixas essa calmaria causam aflição (no bom sentido, é claro), como em "Brooklyn Baby". Destaque para: a já citada "Brooklyn Baby" e as demais, "Ultraviolence”, “West Coast” e “Sad Girl”
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04- Thiago Pethit - Rock'n'Roll Sugar Darling
Glam Rock, Indie Rock, Pop
Excessos, liberdade sexual, glamour e drogas. Podemos pensar aqui em Joe Dallesandro, ícone do cinema underground na década de 70 e que participa, mesmo que brevemente, do terceiro registro de Thiago Pethit. Opa, também podemos pensar em " Rock’n’Roll Sugar Darling" com as mesmas quatro expressões: excessos, liberdade sexual, glamour e drogas. Há no álbum uma liberdade libertina prenunciada no clipe de "Moon", de seu álbum anterior, "Estrela Decadente". Dessa vez Thiago extrapola os limites e nos brinda com um glam rock libertino, descompromissado, dançante, melancólico de inspirações que passam por Lou Reed e Bowie. Há lascividade. Há rock. Há o rock star ainda não perdido. Há rock'n'roll sugar darling.
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03- Royal Blood – Royal Blood
Garage Rock, Indie, Alternative
Ah, puta merda, posso resumir isso tudo em: é um álbum extremamente foda.
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02- Damien Rice - My Favourite Faded Fantasy
Folk
Resenhei esse álbum não faz muito tempo para o blog, vocês podem conferir a resenha na íntegra aqui. Só vou reforçar aqui o que já tinha dito anteriormente: não tenho um parecer definitivo, de fato do álbum, creio que o Damien sempre foi capaz de colocar-se através de várias camadas de suas letras e sua sonoridade – até em suas músicas mais óbvias, como “Cheers Darlin” notamos histórias permeadas por histórias. Contudo, não sei julgar de fato o que esse álbum me passa – sei que gosto, até pela repetição do que esperar do Damien e das pequenas inconstâncias dessa fantasia que, aparentemente, desbotou. Vale o esforço de ouvir por álbum com ouvidos além da melancolia – para alguns até forçada – que ele traz. Vale mergulhar na letargia que ele propõe, na melancolia e nas repetições. Vale pela espera de oito anos e oito músicas, vale por ser um dos meus artistas preferidos e por não ter medo de continuar o que faz e se colocar em suas criações: vale pela própria fantasia desbotada proposta no álbum, a minha preferida.
01- Juçara Marçal – Encarnado
Math Rock, Vanguarda Paulista, Experimental, MPB
Encarnado: adj. Que é da cor da carne. Vermelho, rutilante, escarlate. Que encarnou; feito carne: o Verbo Encarnado. S.m. A cor encarnada.
Não sei nem como começar essa resenha - e talvez eu me alongue demais, mas enfim. "Encarnado" para mim recebe o título de melhor álbum do ano pela força de sua estética, de sua sonoridade tortuosa, de rabeca e duas guitarras imundas. De uma coerências entre as faixas que não pode ser resumida em menos do que brilhante. Da voz da Juçara que desde "Padê" para mim fora revelada como um das mais notáveis da "nova MPB" (mesmo que ela tenha vários anos de estrada). "Encarnado" para mim se apresenta como uma poética tortuosa do Brasil, da profundidade de nossa cultura, das crônicas de nossas vidas (representada em "João Carranca"), da beleza e tristeza da dor em uma ciranda do aborto (uma das letras mais belas do álbum), da morte e da vida - de nossas escolhas e nossos caminhos desarmônicos: do que encarna em nossa pele.
Encarnado encarnou em mim - e eu sei depois de ouvir esse álbum por completo eu sou outro, porque esse álbum é um acontecimento: é quase acerto, endereço, descoberto e derramado; encarnado.
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