Gênero: Alternative rock / MPB / Samba
País: Brasil
Ano: 2005
Comentário: Transição. Essa é a palavra que define o que 4, último álbum dos cariocas dos Los Hermanos, trabalho que celebra dez anos de seu lançamento em 2015. Controverso para época, o disco não agradou de imediato grande parte do público.
Aguardado por muitos, o sucessor de Ventura, disco solar e enérgico e de relativo sucesso, decepcionou fãs de longa data que se dividiram entre amar ou estranhar o novo rebento. A crítica, por sua vez, polarizou opiniões entre rasgar elogios ou não entender o porquê mais um recondicionamento sonoro. Mas afinal por quê tamanha disparidade?
De fato, para aqueles que acompanharam e devotaram a evolução sonora promovida em Bloco do eu sozinho, 4 representa mais uma guinada musical, a maturidade da maturidade, mas com certo estramento inicial, pois é perceptível a mudança gradual nas composições da dupla Camelo e Amarante, responsáveis por todo o repertório da banda.
Os acordes iniciais de "Dois barcos", canção de Marcelo Camelo, já denunciam que algo diferente estava por vir. As letras existenciais e melancólicas, marca inerente ao trabalho da banda, ainda estavam ali, mas o tom lúgubre e arrastado da canção causaram espanto nos já convertidos admiradores e avaliadores, que não esperavam uma imersão em melodias frias, conduzidas em sua maioria pelo piano de Bruno Medina e por arranjos orquestrados. Características como estas dominam grande parte do disco como percebe-se em "Fez-se mar", "Sapato novo" e "É de lágrima".
Se Camelo opta por seguir novos caminhos, muito próximos a MPB clássica, Amarante responde, em menor parte, de maneira distinta apostando no que se poderia chamar de "velho Los Hermanos". O hit "O vento" (faixa esta que foi abertura de Malhação), a pungente "Condicional" e "Paquetá", com toda a sua latinidade, são conduzidas por guitarras que muito lembram o que a banda produziu nos primórdios.
Passado todo este tempo, hoje é possível visualizar com clareza que 4 é um reflexo direto do que a dupla de compositores principais iria produzir de maneira solo anos mais tarde. Camelo seguiu a atmosfera mpbística experimental (como é perceptível nos discos Nós e Toque Dela). Já Amarante apostou em novas parcerias e formou a Little Joy, banda mezzo brasileira mezzo norte-americana, cuja sonoridade jovial alcançou relativo sucesso. Ironicamente, tempos depois as sonoridades se inverteriam como é visível no disco de estréia da Banda do Mar (projeto de Camelo) e Cavalo (voo solitário de Amarante)
Querendo ou não, 4 seguirá como o mais contrastante álbum da curta e meteórica carreira. Porém a sua influência e ousadia ainda reverbera na cena musical brasileira. Se algum disco brasileiro pode merecer título de marco zero do que hoje se conhece como "indie-sambinha" este disco tem grande culpa no cartório.
O que o futuro reserva à banda ainda é uma incógnita. Como não há perspectiva de um novo disco, por hora os fãs de longa terão que se contentar com a turnê caça-níquel que em outubro varrerá o solo brasileiro à preços exorbitantes.
Tracklist:
01. Dois barcos
02. Primeiro andar
03. Fez-se mar
04. Paquetá
05. Os passáros
06. Morena
07. O vento
08. Horizonte distante
09. Condicional
10. Sapato novo
11. Pois é
12. É de lágrima
Ouça: Spotify