Não é preciso dizer que na avassaladora onda do Hip Hop nacional, que cobriu todo o país do ano passado pra cá, Criolo figurou como um dos principais nomes do gênero, e um dos grandes responsáveis por essa ascenção - e inquestionável consolidação. No entanto, Criolo se tornou muito mais do que um artista de rap: reggae, samba, brega, rock e até baião figuram hoje em seu setlist, ritmos que são sempre acompanhados por ótimos - e muito críticas - composições.
Foi mais ou menos este tipo de mistura que o público do intimista Cine Joia, localizado no famoso bairro da Liberdade, pôde conferir nos dias 12 e 13 de outubro, em duas apresentações esgotadas. O dia escolhido por este rapaz foi o sábado. Bastante curioso acerca de suas apresentações ao vivo - já que na maioria de suas aparições na TV, Criolo se mostra um cara recluso e avesso a muitos holofotes - também me perguntava se daria tempo de assistir a Silva vs. Bonnar logo que saísse dali. A módica meia hora de atraso da banda fez com que eu conseguisse pegar apenas a joelhada derradeira, mas isso não importa. A apresentação perfeita compensou.
A casa é bem charmosa: um local nem grande nem pequeno, em aclive, o que permite que, sem exagero algum, você consiga enxergar muito bem o palco de qualquer ponto que esteja. Enquanto o artista não sobe ao stage, belíssimas projeções de imagens nas paredes te dão um alento por ter pago oito reais numa lata de Heineken.
Após três latinhas - sim, vinte e quatro reais - a banda entoa os primeiros acordes enquanto Criolo, ainda sem subir ao palco, já declamava: "vamos às atividades do dia", indicando que Lion Man seria a música de abertura. Logo em seguida, Sucrilhos e Subirosdoistiozin, essa em arranjos muito diferentes do que ouvimos em Nó Na Orelha - e isso não é algo ruim, de forma alguma. Pra quem esperava um cara reservado, a grande surpresa, do alto de seu terno, calça e camisa brancos, com gravata laranja e preta, Criolo foi absurdamente simpático. Interagiu com o público o tempo todo, sem contar as suas desengonçadas danças, que acompanhavam cada canção e instigavam o público a fazer o mesmo.
Dan Dan, seu fiel parceiro, também esbanjava simpatia, e cumpria muito bem a sua função de agitar a audiência. Seguindo o repertório, algumas poucas faixas da primeira mixtape, Ainda Há Tempo,empolgavam o público tanto quanto as do disco do ano passado. Se seguiram Samba Sambei Freguês da Meia Noite e, um dos pontos altos da noite, a emblemática Não Existe Amor em SP, precedida por um relato emocionado de como a música foi apresentada ao produtor Daniel Ganjaman - que, aliás, fazia parte da banda, nos teclados, MPC e tantos outros aparatos.
Mas o ápice da noite foi, certamente, a performance de Demorô, faixa do primeiro disco, e que se mostra um verdadeiro ode à necessidade de ser o queremos ser, e não o que planejam pra gente. O verso "ninguém vai me frear, ninguém vai me dizer o que eu devo fazer nessa porra" era repetido a plenos pulmões por grande parte do público. Pouco depois, Criolo ainda cantou, sem acompanhamento da banda, a sua versão de Cálice, clássico de Chico Buarque, adaptada à realidade do Grajaú - vale lembrar que a versão foi elogiada e cantada pelo próprio Chico.
Linha de Frente, a ótima Grajauex e Bogotá pareciam ter fechado o setlist. Todos se despediram e se retiraram mas, instantes depois, recebemos um Ganjaman nos advertindo sobre o período eleitoral, dizendo que, se discordamos do que estamos vendo, principalmente quanto às invasões às favelas, deveríamos refletir bastante antes de votar. O público entendeu o recado, e a resposta veio imediatamente: vários "Chupa Serra!" foram ouvidos, até que um pequeno coro se formou.
A banda ainda tocou mais duas músicas, fechando com Vasilhame. Todos os músicos se reuniram na frente do placo, em reverência ao público, que ouviu ainda Criolo cantar os primeiros versos de Ainda Há Tempo, acompanhados pelos presentes. Foi o que fechou uma noite de muita análise crítica, muito carisma dos artista e, acima de tudo, muita música boa.
PS: a qualidade dos vídeos não é sensacional, pois é feita por gente que tava na plateia. Assim que o cinejoia postar algo no canal do youtube eu edito o post.
Poxa, nem sabia desse show, senão teria ido.